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“As garras do feminismo”: discurso de ódio antifeminista no Facebook e o senso de urgência controlada
“Las garras del feminismo”: discurso de odio antifeminista en Facebook y la sensación de urgencia controlada
“The claws of feminism”: anti-feminist hate speech on Facebook and the sense of controlled urgency
Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, vol. 45, e2022119, 2022
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM)

Artigos


Recepção: 08 Junho 2020

Aprovação: 02 Janeiro 2022

DOI: https://doi.org/10.1590/1809-58442022119pt

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar de que forma conteúdos antifeministas divulgados no Facebook mobilizam ódio direcionado a feministas e utilizam-no como uma poderosa ferramenta política. A escolha metodológica foi coletar conteúdos disponibilizados em páginas da mencionada plataforma de redes sociais e examiná-los a partir da Análise do Discurso na perspectiva foucaultiana. Considero, assim, que essas falas existem em um contexto e atendem a necessidades urgentes do antifeminismo. Nesta oportunidade, será discutida especificamente a necessidade de promover, em relação ao feminismo, um senso de urgência controlada: narrativas são criadas para incentivar reações tanto explosivas quanto contínuas, de modo a garantir que a aversão a essas militantes conserve sua intensidade e perdure ao longo do tempo. Assim, fica solidificada a união entre o grupo antifeminista sob a ideia de enfrentamento de um grande vilão.

Palavras-chave: Discurso de ódio, Feminismo, Antifeminismo, Facebook.

Resumen: Este trabajo analiza las formas cómo los contenidos antifeminista publicados en el Facebook movilizan el odio dirigido a feministas y lo utilizan como una poderosa herramienta política. El procedimiento metodológico fue recopilar contenidos disponibles en las páginas de la mencionada plataforma de redes sociales y examinarlos a partir del Análisis del Discurso en la perspectiva foucaultiana. Por lo tanto, considero que esas declaraciones existen en un contexto y corresponden a las necesidades urgentes del antifeminismo. En este artículo también será discutida específicamente la necesidad de promover una cordura de urgencia controlada, con relación al feminismo. Las narrativas son creadas para incentivar reacciones tanto explosivas como continuas, a fin de garantizar que el rechazo a esas activistas mantenga su intensidad a lo largo del tiempo. Así, la unión entre el grupo antifeminista se solidifica bajo la idea de enfrentamiento de un gran villano.

Palabras clave: Discurso de odio, Feminismo, Antifeminismo, Facebook.

Abstract: This paper aims to analyze how antifeminist content published on Facebook mobilizes hate and uses it as a powerful political tool. The methodological path was to collect content made available in the pages of the mentioned social media website and to examine them using the Discourse Analysis from the Foucaultian perspective. I consider, therefore, that these enunciations exist in a context and meet the urgent needs of antifeminism. In this work, the need to promote a sense of controlled urgency will be specifically discussed: narratives are created to encourage both explosive and continuous reactions, in order to ensure that aversion felt for these militants retains its intensity and lasts throughout time. This strategy solidifies the union between the antifeminist group under the idea of confronting a terrible villain.

Keywords: Hate speech, Feminism, Anti-feminism, Facebook.

Considerações introdutórias

“Acabei caindo nas garras do movimento feminista”. Foram essas as palavras usadas pela ativista Sara Winter1 para justificar sua grande mudança de comportamento ao longo dos anos, de integrante do grupo Femen a mulher conservadora e militante antifeminista. Dirigindo-se a um público de cerca de cem pessoas que ocupava o auditório da Igreja de Sant’Ana, no centro do Rio de Janeiro, ela contou sua atribulada história de vida. Irmão drogado, família destruída, prostituição, violência sexual: essa trajetória, de acordo com Winter, foi o que a levou ao feminismo.

Homens e mulheres de todas as idades se reuniram naquela tarde de sábado, 4 de agosto de 2018, para ouvir Sara Winter e mais quatro jovens palestrantes no Primeiro Congresso Antifeminista do Brasil2. Na plateia, esperando passar despercebida, estava eu, autora deste trabalho – compareci ao local como parte de uma investigação sobre discurso de ódio antifeminista. Apesar de ter como foco de pesquisa o ambiente online, a experiência de assistir, ao vivo e em proximidade, a mais de quatro horas de falas inflamadas contra o feminismo3 confirmou a impossibilidade de enxergar as redes sociais como um ambiente à parte do restante da sociedade: as palavras e imagens ofensivas que eu vinha arquivando a partir de publicações na plataforma Facebook se fizeram presentes naquele local.

Este artigo se situa em meio a uma pesquisa mais ampla, com o objetivo geral de investigar que narrativas, ideias e estereótipos são utilizados para mobilizar ódio contra mulheres feministas nos sites de redes sociais. Em estudos anteriores, abordei algumas linhas de argumentação utilizadas para este fim, como o apelo à nostalgia para fortalecimento do ideal conservador de mulher em oposição à “feminista degradada” (ANJOS, 2017), a menção ao corpo e à sexualidade das militantes, construindo-os como monstruosos (ANJOS, 2020a) e a misoginia como retórica política (ANJOS, 2020b).

Na presente oportunidade, me debruço sobre outra estratégia específica, identificada na análise do discurso destas páginas, que chamei de senso de urgência controlada: o estímulo de uma reação apaixonada, porém não se esgota em combustão e, portanto, serve para engajar a audiência e mantê-la ao longo do tempo. Essa observação emergiu a partir dos seguintes questionamentos: como convivem, nas páginas, visões aparentemente contraditórias sobre o mesmo objeto? Como poderiam as feministas serem ridículas e fracassadas e, ao mesmo tempo, um problema urgente e perigoso? Argumento que não se trata de mera incoerência ou coincidência: essa criação de verdades distintas sobre as feministas está em íntima relação com seu contexto e as necessidades comunicativas de seus enunciadores.

Metodologia

A escolha metodológica foi analisar conteúdos disponibilizados no Facebook, ambiente digital que, à época da coleta dos dados, era a rede social mais utilizada no Brasil. Atualmente aparece em quarta posição no ranking das preferidas dos brasileiros, e segue sendo a mais acessada pela população mundial, com mais de 2,91 bilhões de usuários ativos, sendo 116 milhões no Brasil4. Dentre os diversos caminhos de análise possíveis no espectro desta rede social, optei pelo foco nas páginas, cujas publicações possuem caráter público, ao contrário daqueles que ocorrem em grupos fechados e imporiam entraves éticos à pesquisa.

A escolha das páginas a serem consideradas nesta pesquisa se deu a partir da ferramenta de busca do Facebook, em que utilizei o termo antifeminismo e similares (contra/fora/não + feminismo/feminista). Em seguida, dei prioridade às páginas que demonstrassem estar em atividade, realizando publicações com frequência (semanalmente, ao menos) e possuem foco no feminismo, entre demais assuntos. De acordo com estes critérios, as páginas “Jessicão, a feminista”, “Anti-Feminismo”, “Moça, você não precisa do feminismo” e “Moça, não sou obrigada a ser feminista” foram as escolhidas.

Observei as referidas páginas por um período de seis meses (entre novembro de 2017 e abril de 2018), de modo a reunir um número de itens que possibilitasse um universo de análise variado. Assim, foram coletadas manualmente 351 publicações, somando conteúdos das quatro páginas – a partir dos quais procedi à etapa de viés qualitativo, caracterizada, segundo Fragoso, Recuero e Amaral (2016, p. 67), por uma seleção dos elementos mais significativos para o problema de pesquisa: “o número de componentes da amostra é menos importante que sua relevância para o problema de pesquisa, de modo que os elementos da amostra passam a ser selecionados deliberadamente”. Sabe-se que, ao optar por esta seleção, não é possível a generalização dos resultados, porém ela é adequada para avaliar o objeto em detalhes.

Em análise inicial do corpus, foram identificadas diversas linhas de argumentação tomadas com o objetivo de deslegitimar mulheres feministas politicamente. Neste trabalho, como foi dito, me debruço sobre uma dessas estratégias e demonstro alguns exemplos de publicações representativas do tipo de narrativa construída pelas páginas. É importante ressaltar que esta narrativa não diz respeito exatamente aos assuntos específicos de cada post – que, como apresentarei, vão deste a invasão de mulheres a uma Igreja até alegações de decepção paterna –, mas sim ao modo como a costura entre estes temas aparentemente não relacionados consegue mobilizar o ódio aos feminismos de maneira bastante efetiva. As publicações, portanto, não serão vistas como entes isolados com um valor por si mesmos, mas sim discutidas de modo a possibilitar a compreensão dos estereótipos e narrativas mobilizados.

Tal é a diretriz da Análise do Discurso na perspectiva de Foucault (2008), que propõe analisar enunciados como raridades, que apenas existem em condições históricas muito específicas, e que não se dão de forma necessária, mas por meio de mecanismos de poder e saber determinados. A orientação da investigação foucaultiana seria justamente compreender o princípio segundo o qual puderam aparecer aqueles conjuntos significantes e não quaisquer outros, além de desvelar as relações de poder e luta política que conformaram esta organização de mundo.

Sendo assim, neste trabalho me questiono: em que contexto se torna interessante para as páginas contra o feminismo criar e circular certas verdades sobre este movimento? De que maneira essas verdades são criadas por determinadas relações de poder e também as reforçam? A que necessidades urgentes do antifeminismo o discurso dessas páginas atende?

Ódio, uma efetiva tecnologia de união de grupo

Sites de redes sociais podem se tornar verdadeiros “viveiros” para o machismo, a homofobia e a crença na supremacia branca, como lembram Vickery e Everbach (2018): características da web como mobilidade e possibilidade de comunicação assíncrona conferem as condições perfeitas para a formação e mobilização de grupos homogêneos e extremistas que talvez não se encontrassem com tanta facilidade, considerando limites geográficos e temporais. Além disso, as possibilidades de abrangência, replicabilidade, persistência e rastreamento de conteúdos tornam atividades como produção, reprodução e busca de dados em algo corriqueiro para seus usuários (boyd, 2011). Nestes casos, como ressalta Recuero (2013, p. 65), uma ofensa se torna mais pública, replicável e abrangente, “potencializada pela própria rede e pela capacidade da rede de reproduzir o caso e amplificar seus efeitos para os envolvidos”.

Nunca é demais recordar, contudo, que não se trata de um mero problema da tecnologia, mas sim uma questão social mais ampla. Considerar o discurso de ódio online como uma consequência natural da comunicação mediada por computadores é uma manifestação do determinismo tecnológico, caracterizado, segundo Baym (2010), por uma visão da mídia como causa de consequências sociais e como um reino separado do “mundo real”. Ódio, ofensas e preconceitos, entretanto, se espalharam pelo meio social de maneira bastante efetiva muito antes do advento da World Wide Web. A questão é mais complexa e envolve a sociedade como um todo. É neste sentido que Markus (1994) afirma que o determinismo, mesmo quando enxerga a tecnologia de maneira negativa e apocalíptica, é uma teoria otimista: se os efeitos perversos da comunicação eletrônica fossem causados apenas pelas características das próprias tecnologias, tudo seria solucionado com a criação de melhores ferramentas ou a distância delas.

Outro problema desta perspectiva é colocar os usuários como passivos, não levando em conta que os indivíduos se apropriam das mídias de acordo com seus objetivos sociais e relacionais. Polivanov (2015) lembra a necessidade de questionar o argumento de que, nos sites de redes sociais, os atores simplesmente exibiriam suas vidas privadas de maneira aleatória e indiscriminada. A autora aponta para o fato de que, em realidade, os indivíduos ativamente manejam os conteúdos que publicam ou deixam de publicar na rede de acordo com as impressões que desejam passar à audiência, “em um processo marcado pela escolha em grande medida consciente e refletida sobre os materiais apropriados” (POLIVANOV, 2015, p. 153).

Além da invalidade da ideia de que a tecnologia estimule, por si só, manifestações de ódio previamente inexistentes, para se abordar corretamente o problema do discurso de ódio também é preciso discutir a incongruência de se considerar que esta emoção seja exclusivamente um fruto da mente de certos indivíduos degenerados, conhecidos como haters. Esta visão se concentra nos crimes espetacularizados e casos extremos, ignorando o cenário mais amplo e falhando em atacar a raiz da questão. Assim, é não só limitada, como também descontextualizada e despolitizada. Descontextualizada porque não leva em conta que estes discursos e crimes de ódio expressam preconceitos e estereótipos que refletem nossa história, valores e conflitos sociais e, portanto, não são fatos isolados. Despolitizada porque oblitera as relações de poder envolvidas na fermentação e circulação deste ódio. A concentração da discussão sobre ódio na figura do hater, portanto, reduz um problema social a uma questão individual e, por conseguinte, é favorável para manter o status quo (BLEE, 2005; LEWIS, 2014).

O ódio, em realidade, costuma funcionar como uma espécie de cimento social, na medida em que colabora para construir identidades, delinear moralidades e reforçar valores (CHAVAUD; GAUSSOT, 2008). Cada cultura possui objetos de ódio aprovados socialmente que ajudam a estabelecer e corroborar fronteiras entre o certo e o errado, o bem e o mal – ainda que este processo não seja admitido com muita frequência. Com efeito, Gay (1995) coloca no cultivo do ódio o cerne do projeto civilizador da burguesia europeia. Esta emoção permitiu à sociedade vitoriana solidificar-se como um grupo homogêneo e mitigar o temor interno das próprias imperfeições, direcionando a aversão ao outro diferente.

Uma análise profícua do ódio, portanto, deve abandonar a visão deste como emoção antissocial, sentida por indivíduos isolados, ou inflamada com mais força apenas com o advento das ferramentas de redes sociais. Ao contrário, é possível dizer que o ódio é uma poderosa tecnologia de formação de redes sociais, considerando-as, em seu sentido lato, como agrupamentos humanos constituídos por interações.

O ódio, deste modo, integra acordos sociais e coletivos com diversos fins, sendo um dos principais o uso político, de construção de um grupo fechado a partir da oposição ao outro. Para justificar uma interferência ao longo do tempo sobre outro grupo, ajuda que o “vilão” a ser enfrentado pareça quase invencível. Não basta que o objeto odiado seja visto como execrável e irremediavelmente condenado, precisa existir algo que faça com que ele se torne, além de um problema urgente, uma questão terrivelmente complexa, que demanda constante observação e interferência. Em outras palavras: para mobilizar o ódio de maneira efetiva, não se pode correr o risco de permitir uma solução fácil, um afastamento apressado típico do nojo, um desvio do olhar com desprezo ou um enfrentamento explosivo e cheio de ira. Afinal, o que caracteriza o ódio é justamente a sua persistência a longo prazo.

Mesmo a morte do grupo ou indivíduo considerado rival pode não ser suficiente para aquele que sente ódio: como lembra Kolnai (2013 p. 143, tradução nossa), esta emoção costuma acompanhar sua vítima “para além do túmulo”, em um desejo de “condenação eterna de sua alma”5. Reforça-se, portanto, a ideia do ódio como uma emoção “teimosa”, isto é, que perdura ao longo do tempo e é “extraordinariamente resistente à transformação” (BRUDHOLM, 2010, p. 309, tradução nossa)6.

O uso político da aversão, porém, ao instrumentalizá-la, cria algumas mistificações em torno dela. O ódio costuma ser ressignificado como ira justa, ou seja, uma reação equilibrada a um dano (CHAVAUD; GAUSSOT, 2008). Além disso, cria-se a ilusão de que existe um fim para sua ação, tanto no sentido de um propósito claro – geralmente, livrar-se do grupo que se considera ameaçador – quando de um término – um momento futuro em que o grupo terá eliminado aquele problema e poderá descansar em paz. É necessário, portanto, que se acredite que a vitória contra o grupo odiado será possível, ainda que difícil.

As páginas antifeministas, então, precisam estabelecer um delicado equilíbrio entre incentivar a raiva – despertando desejo por ação imediata e efetiva contra eventos considerados absurdos e injustos – e demandar outros tipos de reações – como o riso, o descrédito e o desprezo, que geram consequências a longo prazo e justificam um contínuo olhar para esse outro. Chamei essa estratégia de senso de urgência controlada: algo que estimula a reação apaixonada, porém não se esgota em combustão e, portanto, serve para engajar a audiência e mantê-la ao longo do tempo.

Em minha análise das páginas antifeministas, considero relevante destacar uma forma de representação das militantes pelos direitos das mulheres que identifico como sendo especialmente importante para esse fim, e que passarei a demonstrar a seguir como é construída. Trata-se da imagem das feministas como selvagens e histéricas, além de preguiçosas e oportunistas que, diante do próprio fracasso, desejariam roubar privilégios dos homens e das mulheres conservadoras. Devido ao seu dito descontrole e ao fato de questionarem privilégios tidos como naturais, as feministas são vistas como um problema urgente e perigoso, mas, ao mesmo tempo, são deslegitimadas como doentes, ridículas e fracassadas, visão que não demanda ações com tanta imediatez, e sim um olhar contínuo e atento.

“Feministas peladas”: o estereótipo da mulher descontrolada

Mulheres com os seios à mostra tentam, a todo custo, passar por entre um cordão humano que as impede de adentrar um local religioso para protestar. Em contraste com as manifestantes revoltadas, os homens que protegem o edifício sagrado não esboçam reação violenta – só fazem orar e dar as mãos. Essa reação pacífica colabora para destacar a atitude agressiva das militantes, a qual parece desproporcional. Esta é a cena retratada em um vídeo publicado pela página “Anti-Feminismo” (Figura 1), que caracteriza os homens em questão como “católicos corajosos” e as mulheres como “feministas peladas” e “feminazi”. Esse tipo de conteúdo interessa ao antifeminismo porque possibilita ligar suas rivais à ideia de extremismo.


Figura 1
Publicação da página “Anti-Feminismo” que retrata um protesto agressivo por parte de supostas militantes feministas
Fonte: acervo da pesquisa.

Se o ataque a uma instituição religiosa já seria, para muitos, imperdoável, as páginas oferecem, ainda, outros tipos de imagens para representar protestos feministas considerados absurdos, como é o caso a seguir (Figura 2). A imagem mostra uma mulher jovem, seminua, com o corpo pintado e um objeto de ferro no rosto. O texto se refere a ela como “isso” e a legenda da publicação complementa: “Feminismo demais dá nisso!”. Assim como no caso da igreja e em outros identificados pela pesquisa, não há como saber se a mulher retratada de fato se identifica como feminista – a página, porém, age como se essa fosse uma representação fidedigna e uma prática corriqueira do movimento como um todo. Mais do que mero exagero ou generalização, argumento que este tipo de narrativa cumpre um propósito de deslegitimação das falas de mulheres que se posicionam contra o status quo e a tentativa de isolá-las do restante da população feminina e da participação política. Se ser feminista é isto, então o melhor para qualquer mulher de bem seria manter distância.


Figura 2
Publicação da página “Anti-Feminismo” que mostra uma militante protestando seminua
Fonte: acervo da pesquisa.

A insistência neste estereótipo da mulher descontrolada possui profundas raízes em concepções anacrônicas sobre a vida emocional e psíquica das mulheres, em geral. Frevert (2011), ao analisar definições de enciclopédias do século XVIII, percebe que era comum à época a visão de que as mulheres, criaturas cuja característica mais intrínseca seria a fragilidade, não teriam a força e o discernimento necessários para moderar seus afetos – muito menos a raiva, que de forma alguma combinaria com a delicadeza típica das damas. O homem, tido como mais racional e capaz de controlar melhor suas emoções, quando sentia algo como ira, essa era vista como uma raiva justa, uma reação que, mesmo extrema, provavelmente seria explicável no contexto em que ocorreu (FREIRE FILHO, 2014; FREVERT, 2011).

No século XIX, perpetuou-se ainda mais a ligação entre o feminino e o descontrole das emoções. É possível citar, por exemplo, a crença freudiana de que, devido ao complexo de castração, as mulheres apresentariam um prejuízo na formação do superego, que gera a predominância da inveja e do ciúme em sua vida mental e faz com que não consigam controlar suas emoções propriamente, como logram os homens (FREUD, 1996).

Por meio das publicações anteriormente exibidas, percebo que, nas páginas antifeministas, esse discurso sobre mulheres, produzido no século XIX, é transmutado e aclimatado – não mais referindo-se a todas as mulheres, mas sim especificamente às feministas. Assim, historicamente estereótipos de gênero ajudam a determinar como, quando, onde e quem pode expressar que tipos de emoções (BRODY; HALL; STOKES, 2016).

Trazer à baila tais ideias de desequilíbrio e destempero associadas a este grupo, portanto, colabora para barrar a identificação das mulheres com os feminismos e enxergar feministas como inimigas. Representadas como desprovidas de qualquer noção de recato e decoro, as militantes chegam a ser vistas de forma animalizada. Desta maneira, o diálogo seria não apenas indesejável como impossível. A única maneira de lidar com elas seria o enfrentamento, que se torna uma necessidade urgente.

“Nunca pagou um boleto”: vilãs perigosas, mas preguiçosas

Enquanto algumas publicações encontradas na análise constroem, como foi visto, a feminista como uma mulher agressiva e perigosa, outras apresentam-na como preguiçosas e fracassadas. A princípio, pode parecer uma contradição: como se pode ser uma derrotada e, ao mesmo tempo, uma ameaça? Identifiquei, entretanto, que se trata de uma tática para controlar a urgência levantada pelas publicações que mobilizam uma reação mais exaltada. Se o objetivo é obter sucesso em incitar a perene emoção de ódio, é preciso incutir a concepção de que se trata de uma questão complexa e quase insolucionável, que demanda constante observação e interferência. Para esse fim, colabora o estigma das militantes como ridículas e fracassadas: ao contrário de vilões que agem de maneira corajosa e poderiam até inspirar certa admiração por parte dos seus rivais, a narrativa que se quer criar aqui é a de vilãs que atuam de maneira sorrateira, sempre à espreita para usurpar privilégios dos “homens e mulheres de bem”.

A publicação a seguir (Figura 3) traz ideia semelhante, afirmando categoricamente que feministas não teriam responsabilidade, não trabalhariam e seriam, em verdade, extremamente dependentes dos homens. A imagem cria um cenário no qual feministas criticam homens, mas, ao mesmo tempo, tiram vantagem deles. Benevolentemente, eles toleram calados as oportunistas e ingratas, até o momento em que se cansam, como diz a legenda da publicação: “um dia o papai cansa de chorar no banho, sai para comprar cigarros e não volta mais!”. É interessante notar que, nesse mundo de patriarcas tão generosos, até mesmo o momento de explosão do homem é controlado: ele simplesmente sai de casa sem alarde.


Figura 3
Publicação da página “Anti-Feminismo” que desmerece as feministas como irresponsáveis e dependentes dos homens
Fonte: acervo da pesquisa.

Por que é tão interessante para as páginas contra o feminismo representar este movimento que tem como principais características a preguiça e o oportunismo? Esta seria uma maneira de associá-lo a uma forma monstruosa. Nesse momento, é interessante retomar a ideia de monstro moral, conceituada por Foucault (2001). Como explica o autor, a nova economia do poder de punir que desponta no século XVIII passa a enxergar o criminoso como alguém que se volta contra as leis naturais, rompe o pacto moral com a sociedade e prefere seguir seu interesse próprio, sem se preocupar com as consequências para a coletividade. No contexto em que emergiram essas ideias, o primeiro monstro moral que surgiu teve caráter político: a figura do déspota, encarnada, na época, por Luís XVI e Maria Antonieta, rei e rainha da França.

A partir daí, proponho que a feminista emerge como um novo monstro político. Segundo a visão demonstrada nas publicações analisadas, as militantes pelos direitos das mulheres, ao desafiarem os padrões de gênero, estariam quebrando o pacto social e pensando apenas no proveito próprio – pior ainda, elas desejariam impor, como déspotas, suas práticas a todos e exterminar, como ditadores, os que pensam diferente. Desse modo, não surpreende que, comumente, sejam chamadas, de forma pejorativa, como “feminazi”.

É importante lembrar que essa acusação – de uma suposta tirania existente no ato de questionar regras e buscar mudanças – atinge diversos movimentos sociais. Os grupos que lutam pelos direitos da população LGBTTQIA+ são acusados de “impor uma ditadura gay”, o movimento negro é questionado por alegadamente “exigir privilégios”, a discussão sobre gordofobia é lida como uma “imposição a que todos achem bonito ser assim”.

Esse tipo de manifestação ocorre porque mudanças sociais, de maneira geral, significam movimentações nas redes de poder, o que costuma acarretar um sentimento de revolta e indignação por parte de certos grupos, que sentem estar perdendo campo de atuação. Indivíduos de diversas classes desejam aumentar sua possibilidade de exercer poder, mas será ainda maior a vontade de reinstaurar essa capacidade quando se acredita que ela foi perdida, uma vez que um direito já adquirido costuma parecer parte natural do ser e sua perda é sentida de forma muito intensa (MANSBRIDGE; SHAMES, 2008). Assim, a relutância em aceitar novas configurações sociais se converte em uma sensação de estar sendo agredido, e a dificuldade em reconhecer os próprios privilégios, que parecem naturais, faz com que essas pessoas invertam a situação e acusem o outro inconveniente de querer regalias.

A ideia de que as feministas desejariam usurpar privilégios se alia ao que Stringer (2014) chama de Teoria Neoliberal da Vítima: as narrativas progressistas de libertação dos oprimidos são invertidas em um processo que culpabiliza vítimas ao enxergar a vulnerabilidade social como uma responsabilidade dos indivíduos. Se garantir boas condições de vida é obrigação única e exclusiva de cada cidadão através do seu trabalho, fica esvaziada a legitimidade de uma demanda por mudanças coletivas. Desse modo, militantes são vistas como aproveitadoras que não conseguiram obter sucesso em suas vidas privadas e desejam, portanto, impor aos demais o papel de resolver seus problemas. Tal é a visão representada na publicação abaixo (Figura 4), que define o feminismo como um conjunto de “fracassadas na vida que invejam mulheres lindas e vencedoras”.


Figura 4
Publicação da página “Moça, você não precisa do feminismo” que identifica as feministas como fracassadas e invejosas
Fonte: acervo da pesquisa.

A situação, porém, fica pior, de acordo com a página antifeminista em questão. As feministas não se contentariam em reclamar: segundo o texto, elas também desejam rebaixar todas as mulheres. No texto, as feministas são representadas como fracassadas, mas, ainda assim, perigosas. Mesmo tão baixas e desprezíveis, elas deteriam alguma forma oculta de poder capaz de influenciar outras mulheres. Seria preciso, então, prosseguir com cuidado. Fica demonstrado, portanto, o modo como o antifeminismo tenta manter um equilíbrio entre um senso de urgência na ação e, ao mesmo tempo, um apelo para a constância e perenidade do projeto contra as feministas.

“O importante é sempre estar atento”: a caça pela mulher falha

A página parece vislumbrar um momento de fim do feminismo, mas é possível questionar: do modo como se colocam os termos dessa disputa, ela poderia ter fim? Acredito que não, uma vez que a definição de feminismo passa a ser tão ampla que pode englobar qualquer atitude que fuja ao estreito padrão de comportamento e moral compreendido na feminilidade ideal.

A feminista, segundo essa perspectiva, não é simplesmente uma mulher que apresenta determinado posicionamento político, mas é definida como uma mulher falha. Uma vez que a margem de erro permitida ao padrão de feminilidade é pequena, aquelas que, de alguma forma, não obedeçam às regras colocadas para pessoas de seu gênero estão sujeitas a ser enquadradas no mesmo grupo das feministas – mesmo que não se enxerguem dessa maneira. Em outras palavras: ainda que o discurso antifeminista não propague o ódio a qualquer mulher, ao delinear um padrão moral restrito e tachar como inadequadas uma ampla gama de atitudes, torna qualquer mulher um possível alvo.

É o que observa Lillian (2007) ao analisar o discurso de William Gairdner, figura pública de afiliação neoconservadora do Canadá: o termo feminista se torna praticamente um código para se referir a qualquer mulher com quem ele discorda. As mulheres de verdade são simplesmente aquelas que seguem sua visão de mundo, enquanto o rótulo de feminista é imposto a qualquer uma que ele deseje desacreditar publicamente. Ao invés de confrontá-las por sua posição política, Gairdner as ridiculariza e lança mão de estereótipos. Tática semelhante pode ser observada no objeto analisado, como demonstra o caso a seguir (Figura 5).


Figura 5
Publicação da página “Moça, você não precisa do feminismo” que apresenta 3 tipos de feministas
Fonte: acervo da pesquisa.

Na imagem, são listados três tipos de feministas – parece, a princípio, uma classificação extremamente limitada, uma vez que as correntes do movimento (feminismo interseccional, negro, radical, liberal, marxista etc.) são diversas. Ao observar o texto, contudo, é possível perceber que se trata, em verdade, de uma tipificação bastante ampla: até mesmo aquela que “não diz muito abertamente nem faz militância” é classificada sem rodeios como feminista devido à “vaidade exacerbada”.

Outro ponto curioso é a existência da categoria enrustida: segundo o texto, apesar de aderir à opinião considerada como correta em relação ao aborto e à homossexualidade e seguir, aparentemente, a cartilha para ser vista como uma boa moça, ainda assim é uma feminista devido a sua “pusilanimidade” em relação à “maternidade e vida esponsal”. Em outros termos: se uma mulher é considerada, por algum motivo, má esposa ou mãe relapsa, então está apta a adentrar a categoria de feminista.

Além de reduzir múltiplos perfis femininos ao mesmo coeficiente – algo odioso e abjeto –, a publicação colabora no objetivo de manter eternamente aberta uma caça aos mais diversos tipos de mulheres que, por quaisquer motivos, possam ser consideradas inadequadas. Ainda que aleguem que o feminismo “está condenado ao fracasso”, na legenda, advertem “o importante é estar sempre atento”. E o que será feito destas mulheres “perigosas”, que “se aproveitam de pessoas iludidas” e propagam “ideias obscuras”? A publicação a seguir (Figura 6) apresenta uma ideia.


Figura 6
Publicação da página “Moça, não sou obrigada a ser feminista” que fantasia sobre a morte de feministas
Fonte: acervo da pesquisa.

A mensagem é inequívoca: segundo esse ponto de vista, as feministas não mereceriam qualquer empatia, nem sequer caridade. Estariam além de qualquer salvação, e sua morte deveria ser vista com desprezo ou até satisfação. As publicações aqui analisadas demonstram, portanto, que o discurso de ódio não diz respeito simplesmente a manifestações que contenham ofensas, praguejem xingamentos ou exalem preconceitos, mas sim funciona como elemento de um contexto que busca, de maneira persistente, afastar certos grupos de pessoas da esfera pública, sem considerar qualquer possibilidade de defesa ou salvação.

Assim, em uma tentativa de refletir sobre os questionamentos apresentados no início do artigo, considero que o discurso de ódio antifeminista proferido por essas páginas do Facebook existe atendendo a uma necessidades urgente do antifeminismo: promover, em relação aos feminismos, um senso que chamei de urgência controlada. Isto é, o discurso mobiliza reações explosivas, mas também contínuas, de modo a garantir que a aversão a essas militantes conserve sua intensidade e perdure ao longo do tempo, solidificando a união entre o grupo antifeminista sob a ideia de enfrentamento de um grande vilão.

Observações conclusivas

Conta a mitologia grega que, em um pântano da região do Peloponeso, vivia uma serpente de tamanho descomunal, a Hidra. Matar essa fera teria sido um dos Doze Trabalhos de Hércules, semideus que viria a ser cultuado como herói. Essa tarefa, porém, se revelou especialmente desafiadora, uma vez que, ao cortar uma das diversas cabeças da Hidra, renasciam duas outras em seu lugar (BRANDÃO, 1986). A figura da Hidra é útil para refletir sobre o fenômeno que busquei descrever ao longo deste artigo, isto é, a mobilização do ódio antifeminista em páginas do Facebook por meio da promoção do que chamei de senso de urgência controlada.

No conteúdo das páginas analisadas, as feministas aparecem unificadas sob uma só face monstruosa – todas elas, não importa sua corrente ideológica ou características individuais, seriam um perigo a ser enfrentado. Os diversos tipos de feminismos existentes são homogeneizados como “o feminismo”, movimento terrível, que desejaria eliminar a feminilidade das mulheres, atacar homens másculos e até mesmo chegaria a mirar as criancinhas.

Seria, portanto, um dilema terrível e premente, mas também extremamente complexo: ao mesmo tempo em que se promove uma homogeneização de todas as feministas como monstruosas, é mencionada uma multiplicidade de problemas aos quais elas estão supostamente ligadas e uma diversidade de comportamentos que são taxados como típicos dessas militantes.

Além de possuir “garras”, como disse Sara Winter no Congresso Antifeminista, aparentemente, na visão das páginas do Facebook contrárias ao movimento, o feminismo também seria como a Hidra, um monstro de muitas faces, difícil de ser dominado. Ficaria justificado, deste modo, um olhar contínuo sobre esse grupo, uma constante interferência para “revelar” e “descobrir” feministas, ainda que elas não se identifiquem dessa maneira. Esse perpétuo controle se demonstra extremamente útil para fortalecer a comunidade conservadora. Se um inimigo em comum sempre ajuda a aproximar o grupo de mocinhos, então é ainda maior a força unificadora de um grande vilão que jamais é derrotado e continua a reaparecer inesperadamente sob diferentes formas. Ainda que se apresente como reação justa e guiada por um objetivo, o ódio se revela como uma emoção teimosa e persistente, empenhada em uma caça sem fim.

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Notas

1 Sara Winter era como se apresentava naquele momento a ativista Sara Fernanda Giromini. Ela atuava desde 2016 como militante contrária ao feminismo, tendo anunciado neste ano parceria política com Jair Bolsonaro, então deputado federal. Em 2020, ela aparece na mídia como uma das líderes do movimento 300 pelo Brasil, autointitulado uma “organização de direita”. Em uma de suas manifestações, Winter e demais militantes marcharam em direção ao STF usando máscaras, empunhando tochas, requerendo o fechamento do órgão e ameaçando os Ministros. Após o fato, Winter foi presa. Ainda em 2020, tendo deixado a prisão mediante o uso de tornozeleira eletrônica, Sara Winter voltou a atuar divulgando na internet o nome de uma menina de 10 anos que exercia seu direito legal de interrupção de gravidez fruto de estupro, bem como o endereço do hospital onde ocorria o procedimento, e incentivando uma multidão a comparecer ao local como protesto. Já em 2022, a ativista informou ter abandonado o codinome “Winter”, preferindo utilizar o sobrenome do marido, Huff, e manifestou o desejo de levar uma vida afastada da militância.
2 Mais informações em: ‘Feche as pernas’: o que pregam os participantes do 1º Congresso Antifeminista do Brasil. Época, 12/08/2018. Disponível em: <https://epoca.globo.com/feche-as-pernas-que-pregam-os-participantes-do-1-congresso-antifeminista-do-brasil-22964525>. Acessado em: 07/05/2020.
3 É importante ressaltar que os palestrantes deste evento falaram sobre o feminismo como um grupo homogêneo, terrível em sua totalidade, desconsiderando o fato de que existem diversas correntes neste movimento.
4 Ranking das redes sociais: as mais usadas no Brasil e no mundo, insights e materiais gratuitos. Resultados Digitais, 23 maio 2022. Disponível em: <https://resultadosdigitais.com.br/blog/redes-sociais-mais-usadas-no-brasil/>. Acessado em 03/11/2022.
5 No original: “hatred can outlast the enemy’s death, and pursue him beyond the grave. The hater can also try to blacken or blot out his enemy’s memory; he can wish eternal damnation on his soul”.
6 No original: “more ‘stubborn’, extraordinarily resistant to transformation”.

Autor notes

Júlia Cavalcanti Versiani dos Anjos Professora substituta da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ) nos cursos de Jornalismo e Comunicação Social. Doutoranda em Comunicação e Cultura pela ECO-UFRJ, na linha de pesquisa Mídia e Mediações Socioculturais, e mestre pela mesma instituição. Graduada em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda pela ESPM. Atualmente, desenvolve projeto de pesquisa sobre feminicídio na mídia. O presente trabalho foi realizado com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Brasil. E-mail: julianjos@gmail.com.
Editora responsable: Maria Ataide Malcher

Asistente editorial: Weverton Raiol

Declaração de interesses

Conflito de interesse A autora declara que não há confl ito de interesse.


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