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Análise comparativa entre os meses iniciais de 2020 e 2021 no processo de monotematização da cobertura jornalística durante a pandemia da COVID-19 no Jornal Nacional
Análisis comparativo entre los primeros meses de 2020 y 2021 en el proceso de la monotematización de la cobertura periodística durante la pandemia COVID-19 en Jornal Nacional
Comparative analysis between the early months of 2020 and 2021 in the process of monothematization of the news coverage during the COVID-19 pandemic in Jornal Nacional
Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, vol. 45, e2022105, 2022
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM)

Artigos


Recepção: 12 Setembro 2020

Aprovação: 30 Agosto 2021

DOI: https://doi.org/10.1590/1809-58442022105pt

Resumo: Este artigo tem como objetivo compreender os processos jornalísticos da cobertura da pandemia da COVID-19 pelo Jornal Nacional da Rede Globo, no período 2020-2021, direcionando a atenção jornalística para uma análise comparativa da cobertura temática. Considera-se que desde o surgimento da doença, e suas consequências, as atenções dos jornalistas foram divididas em três crises políticas geradas pelo Governo Federal. Estes fatos dividem os tempos de cobertura dos telejornais com a maior crise sanitária, em escala global, no século XXI. Como método de pesquisa, procurou-se utilizar as pesquisas bibliográfica e exploratória e a técnica da Análise de Conteúdo, para poder comparar a partir das reportagens como as crises sanitárias e políticas se imbricaram e se tornaram uma crise política de saúde pública.

Palavras-chave: Monotematização, Cobertura jornalística, COVID-19, Jornal Nacional.

Resumen: Este artículo tiene como objetivo comprender los procesos periodísticos de la cobertura de la pandemia COVID-19 por Jornal Nacional da Rede Globo, en el período 2020-221, dirigiendo la atención periodística a un análisis comparativo de la cobertura temática. Se considera que desde el inicio de la enfermedad, y sus consecuencias, la atención de los periodistas se ha dividido en tres crisis políticas generadas por el gobierno federal. Estos hechos dividen los tiempos de la cobertura informativa televisiva con la mayor crisis sanitaria a escala mundial del siglo XXI. Como método de investigación, se intentó utilizar la investigación bibliográfica, la investigación exploratoria y la técnica de Análisis de Contenido (AC), para poder comparar, a partir de los informes, cómo las crisis de salud y políticas se entrelazaban y se convertían en crisis de salud política.

Palabras clave: Monothematization, News coverage, COVID-19, Jornal Nacional.

Abstract: This paper aims to understand the journalistic processes in the coverage of the COVID-19 pandemic by Jornal Nacional on TV Globo in the 2020-2021 period, directing journalistic attention to a comparative analysis in the monothematic coverage. It is considered that, since the outbreak of the disease and its consequences, the attention of journalists was divided among three political crises generated by the federal government. Such facts divide the times of TV news coverage with the biggest health crisis, on a global scale, in the 21st century. As research methods, bibliographical research, exploratory research, and the Content Analysis technique were employed to compare, from the news, how the sanitary and political crises intermingled and became a political crisis of public health.

Keywords: Monotematización, Cobertura de noticias, COVID-19, Jornal Nacional.

Introdução

Procura-se investigar a cobertura jornalística da COVID-19 em televisão nos primeiros meses de 2020 e 2021, como uma continuação da pesquisa anteriormente realizada pelo Centro de Estudos e Pesquisa em Jornalismo (CAJAZEIRA; ANTONIUTTI; SOUZA CABRAL; NETO, 2020). Este hiato de tempo regula-se por alguns motivos: a decretação da pandemia pela Organização Mundial de Saúde, a crise política na gestão da pandemia pelo governo Jair Bolsonaro, e o início da vacinação da COVID-19 nos primeiros meses de 2021.

O telejornal é originalmente um produto jornalístico politemático, porém, em ocasiões extremas, a depender da cobertura, transforma-se em monotemático ou híbrido, abordando um mesmo assunto em grande parte do seu tempo de exibição e intercalando com alguns temas generalistas. A palavra “jornal” pressupõe uma publicação ou edição periódica que fornece notícias diversas.

Este artigo se propõe a analisar e discutir alguns aspectos da cobertura televisiva do Jornal Nacional (JN) sobre a COVID-19 no que tange aos processos de monotematização e as influências de temas políticos na cobertura da pandemia. A investigação se inicia em 18 de janeiro e se estende até o dia 15 de maio de 2020 e a aplicação no mesmo período de 2021, como forma de estudo comparativo do desenvolvimento da pandemia e da cobertura jornalística no período, em excepcional, no Ministério da Saúde do Brasil, responsável pela gestão do combate à pandemia.

Junto a isso, no Brasil, a crise política se instala e o tema da crise sanitária divide-se com a crise política, a partir da saída de três ministros de Estado do governo do Presidente Jair Bolsonaro: Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Nelson Teich (Saúde). Desde o início da crise, o presidente brasileiro tem contrariado as recomendações da (Organização Mundial da Saúde) OMS e estado presente em diferentes atos públicos, saudando pessoas, sem nenhuma proteção (máscara ou distanciamento) e minimizando os riscos e efeitos nocivos do novo coronavírus.

Além disso, pesquisar sobre a relação telejornalismo e COVID-19, possibilita observar que

Com o advento da cobertura jornalística sanitária não programada pela imprensa, apesar dos fundamentos do jornalismo permanecerem inalterados, como a objetividade, o compromisso com a verdade e a prestação de serviços, entre outros, a realidade profissional não é mais a mesma desde início de 2020 (CAJAZEIRA; SOUZA, 2020).

Ou seja, a pesquisa possibilitou compreender os cenários que foram surgindo ao longo da cobertura que teve início em 2020 e que foi sendo estendida ao longo do ano de 2021 sobre a COVID-19, e como a produção de telejornalismo foi sendo impactada e transformada pela crise sanitária.

Revisão teórica

Estudar o telejornalismo brasileiro neste momento da pandemia da COVID-19 demanda, sobretudo, uma reflexão quanto ao papel que a mídia exerce para a formação de uma sociedade mais crítica, com cidadãos bem-informados e conscientes sobre as problemáticas relacionadas à temática da doença, que atinge hoje, de forma igualitária, a população mundial. As informações ocorrem tanto do nível internacional para o nacional, já que os casos tiveram início na China, quanto do nacional para o local, uma vez que os casos de COVID-19 foram introduzidos nas grandes capitais, via aeroportos com voos internacionais adentrando as cidades interioranas.

Dessa forma, cabe aqui entender para quem os âncoras e repórteres dos telejornais se dirigem ao estruturar o noticiário, o que creem que seja mais ou menos relevante, e o que entendem que pode ou não interessar aos espectadores. Assim, o que eles julgam que deve ser exibido em seus telejornais é o que será buscado a partir da análise empreendida sobre a cobertura jornalística feita pelo JN, da Rede Globo.

Uma informação, da seleção à publicação, independentemente do meio de comunicação, atravessa etapas, que vão da interpretação dos critérios de noticiabilidade por parte dos profissionais do veículo, passando pelas etapas de seleção das fontes, coleta dos dados, produção, até a interpretação desses mesmos critérios pelo editor antes da apresentação final ao público.

Para compreensão de todos esses processos, busca-se aporte teórico nas teorias do jornalismo, especificamente no agendamento da mídia, ou a hipótese da agenda-setting, e nas teorias do gatekeeper e newsmaking (WOLF, 2005; TRAQUINA, 2005; 2008; TUCHMAN, 1978), que defendem que o jornalismo está longe de ser o espelho do real. “E, antes, a construção de uma suposta realidade” (PENA, 2008, p. 128), ou seja, a produção da notícia, embora possa parecer um processo simples, precisa ser planejada como uma rotina industrial.

A hipótese da agenda-setting parte do pressuposto de que os meios de comunicação de massa possuem certa capacidade em determinar as pautas públicas, a partir daquilo que veiculam (McCOMBS; SHAW, 1972). Dearing e Rogers (1996) definem uma agenda como um conjunto de temas que comunicam, de acordo com uma hierarquia de importância, em um determinado momento. Um tema na agenda, por sua vez, é definido como “um problema social, conflitivo, que recebeu atenção dos media” (DEARING; ROGERS, 1996, p. 3). Tais definições têm servido de base para a construção de desenhos de pesquisa destinados a mensurar efeitos de transferência de relevância de uma agenda a outra, em todas as fases das pesquisas em agenda-setting.

McCombs (2005) afirma que até uma breve menção no telejornal da noite é capaz de evidenciar a relevância de um acontecimento, e a localização da notícia no programa e o tempo de duração fornecem pistas da valoração de certos fatos em relação a outros. Assim, a agenda da mídia, de fato, passa a se constituir também na agenda social. O processo de agenda-setting, por sua vez, é composto pelo funcionamento e pelas relações observáveis entre a agenda dos media, a agenda pública e a agenda política (DEARING; ROGERS, 1996), cujas naturezas se dão em termos de definições operacionais.

Entende-se que mais do que sinalizar fatos em destaque, as informações selecionadas diariamente pelos profissionais da mídia, “dirigem nossa atenção e influenciam em nossa percepção de quais são os temas mais importantes do dia. A capacidade para influenciar na relevância das questões do repertório público é o que se chamou de fixação da agenda por parte dos meios informativos” (MCCOMBS, 2006, p. 24). Assim, de uma forma mais simples, pode-se dizer que os meios de comunicação ordenam os temas de relevância (agenda dos meios de comunicação). A partir daí, é que o público que acompanha e monta sua própria agenda – a agenda pública, que vai se relacionar com seu repertório de assuntos e de ações –, constituindo, assim, o nível inicial da opinião pública.

Uma grande contribuição para as teorias do jornalismo foi também o estudo de White (1950). Ele nos ajuda a compreender todo o processo da seleção de notícias, apresentando as principais razões para publicar e para rejeitar uma notícia. Da mesma forma, Wolf (2005) apresenta estudo que contribui para compreendermos como se dão os critérios usados para o processo de seleção e construção da notícia nos meios de comunicação. Cabe aqui relembrar o que são essas teorias e como devem ser inseridas em nosso trabalho de pesquisa, a partir da cobertura do JN sobre a COVID-19.

Kurt Lewin, psicólogo alemão, em 1947, foi o primeiro autor com preocupações sociais na área da comunicação de massas a indicar que a passagem de uma notícia por determinados canais de comunicação depende de “portões” (gates) que funcionam dentro desses mesmos canais de comunicação1 (CORREIA, 2011).

A teoria do newsmaking é considerada uma atualização e complementação da teoria do gatekeeper, que busca compreender os critérios de noticiabilidade, pois procura entender todo o processo de rotina de produção da notícia, isto é, os critérios que levaram a notícia a ser veiculada. Em seus estudos Erbolato e Wolf falam de três momentos: captação, redação e edição (ERBOLATO, 2006); e coleta, seleção e apresentação (WOLF, 2005). Já Ward (2006) defende que o processo jornalístico deve ser descrito em quatro momentos: identificar, obter, selecionar e ordenar ou apresentar.

O que difere os dois autores, Wolf e Erbolato, de Ward, é que este acrescenta o “identificar” em seus processos. A explicação está no fato de aqueles que defendem apenas três etapas o fazem, possivelmente, porque a fase de identificação não pode ser percebida por quem faz a análise a partir do produto final. Somente é percebida por quem estiver acompanhando, de dentro da redação, o processo de construção da notícia. Cabe entender então que: “[...] as análises sobre o newsmaking descrevem o trabalho de comunicação dos emissores como um processo que ‘contém de tudo’” (WOLF, 2005, p. 267).

Assim, a partir dessas teorias é possível entender de que forma os telejornais, em específico o JN, da Rede Globo, empreendeu na escolha de critérios de noticiabilidade, a partir das suas rotinas de produção da notícia, na cobertura do COVID-19.

Procedimentos metodológicos

A metodologia aplicada possui uma abordagem quanti-qualitativa, objetivando tanto a análise numérica quanto as causas e motivações do fenômeno pesquisado de cobertura jornalística do JN acerca da COVID-19. Portanto, o objeto de estudo é a cobertura jornalística da pandemia da COVID-19 no referido telejornal, nos primeiros meses do ano de 2020 e de 2021. O objeto de análise é o telejornal brasileiro mais longevo do País.

O período de análise delimitado de 18 de janeiro a 15 de maio de 2020 e 18 de janeiro a 15 de maio de 2021 caracterizou-se pelo surgimento dos primeiros casos de contaminação nacionais e internacionais, e, o início da vacinação na população brasileira. O corpus de análise é composto pelas reportagens do JN com a temática da COVID-19. A equipe da pesquisa identificou 1.726 reportagens com a temática em várias áreas: saúde, economia, política, serviços, cultura, esporte, comportamento e temas internacionais. As notícias contabilizadas possuíam relação direta ou convergente ao tema central. A ferramenta de análise contou com o auxílio da plataforma de vídeos Globoplay.

Os autores se subdividiram em dois grupos: G1 e G2. A primeira equipe ficou responsável por identificar e selecionar os vídeos da cobertura no ano de 2020 e a segunda equipe responsabilizou-se pelos vídeos de 2021. Com isso, procurou-se assistir a todo material audiovisual selecionado, verificar a relação quanti-qualitativa da cobertura jornalística com a pandemia, o início dos processos de vacinação, e, as alternâncias ocorridas no Ministério da Saúde do Brasil que, por pressupostos, impactaram na gestão institucional da crise sanitária.

Análise da cobertura jornalística do Jornal Nacional

Para compreender como ocorreu a cobertura jornalística do JN durante os primeiros meses (de janeiro a maio) e realizar um estudo comparativo entre os anos de 2020 e 2021, buscou-se coletar os dados sobre as reportagens transmitidas diariamente no telejornal. Neste sentido, portando os dados, é possível observar a questão da monotematização da cobertura da COVID-19 e como ela vem acontecendo ao longo das edições analisadas do JN.

Na análise dos primeiros meses de 2020, visualiza-se um total de 911 reportagens que abordavam a temática da COVID-19. A quantidade de reportagens que versavam sobre esse tema estava em ascendência, visto que a doença era desconhecida, havia muitas dúvidas e diversos impactos e desdobramentos em outros setores sociais. Assim, apresenta-se (Quadro 1) a seguir a quantidade de reportagens sobre a COVID-19 entre os meses de janeiro a maio do ano de 2020:

Quadro 1
Quantidade de reportagens sobre a COVID-19 no JN em 2020

Fonte: elaboração própria (2020).

A visualização da cobertura mais acirrada da pandemia não significa que o JN não noticiasse outros temas, mas que havia uma predominância em noticiar eventos que perpassam pela questão da pandemia. E conforme o passar dos meses, observou-se que essa tematização apresentava um crescimento exponencial. Neste sentido, entende-se que a cobertura do JN aponta, de fato, para uma tematização da cobertura noticiosa sobre a COVID-19, no período de janeiro a maio de 2020. Conforme a doença se alastrava pelo mundo e, principalmente, chegava ao Brasil, era ainda mais intensificada a cobertura. Assim, as demais pautas, momentaneamente, foram menos discutidas no escopo do telejornal, dando espaço para uma cobertura jornalística de saúde. Isso não significa dizer que outros problemas estavam paralisados, pelo contrário, eles continuaram a acontecer. Mas não eram tão noticiados nesse momento ímpar da história mundial.

Em determinados momentos dessa cobertura monotemática observou-se que o JN apenas deixava de cobrir o tema, para reportar sobre as crises políticas que se alastravam pelo Brasil em meio a pandemia. Sobre essa cobertura política, destaca-se o dia 16 de abril (10 reportagens), quando foi anunciada a demissão do então Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta; no dia 24 de abril (11 reportagens), a saída do Ministro da Justiça Sérgio Moro; e no dia 15 de maio (7 reportagens) a saída do segundo Ministro da Saúde, Nelson Teich, que ficou cerca de um mês no cargo.

Desse modo, pode-se aferir que a monotematização da cobertura jornalística de saúde, a partir da COVID-19, é redimensionada apenas quando o JN noticia as crises provocadas pelo governo, como a saída dos ministros descritas anteriormente. Assim, nos dias 16 e 24 de abril e no dia 15 de maio, a cobertura jornalística do JN foi dedicada, majoritariamente, sobre a saída dos ministros. Aponta-se também que as saídas dos dois ministros mantinham, de certa forma, relação com essa cobertura de saúde, mas o destaque principal deu-se sobre as relações, conflitos entre o Governo Federal e os ministros, e não sobre as ações que esses atores estavam desempenhando para melhorar a saúde pública no Brasil.

Já na análise do mesmo período um ano depois, em 2021, a monotematização da cobertura do JN sobre a pandemia apresenta os seguintes dados (Quadro 2):

Quadro 2
Quantidade de reportagens sobre a COVID-19 no JN em 2021

Fonte: elaboração própria (2021).

Nesse segundo momento de análise da cobertura é preciso ressaltar que a pandemia já e assunto de conhecimento mais geral. Ou seja, não se trata de compreender a sua origem ou quais são as consequências, mas, sim, da produção de vacinas e do processo de vacinação da população brasileira, assim como os dados atualizados sobre a quantidade de mortos no país e no mundo. Em sua totalidade, a cobertura do JN entre janeiro e maio de 2021 apresentou 815 reportagens que discorriam sobre a COVID-19.

A cobertura sobre a pandemia ao longo dos primeiros meses de 2021 apresenta uma crescente, assim como no ano anterior. Porém, nos dois primeiros meses (janeiro e fevereiro) ela é mais intensificada. Em janeiro de 2020, há somente 23 reportagens, já o mesmo período de 2021 possui 101 reportagens sobre a COVID-19. Com isso, houve um aumento de mais de 400% na comparação entre os dois períodos. Já no mês de fevereiro, o ano de 2021 apresentou um 50% a mais no número de reportagens em comparação com o mesmo período de 2020. Até aqui a curva aponta para um aumento significativo, porém ela começa a despontar a partir do mês de março.

Em março de 2020, há de fato o marco do decreto mundial que o mundo vivia uma pandemia, o que pode ter direcionado o telejornal para a cobertura monotemática. Um ano depois, a questão da cobertura apresenta 92 reportagens a menos que em 2020. E nos meses seguintes esses dados tendem a diminuir também: em abril de 2020, há 331 reportagens, e o mesmo período em 2021 possui 237; em maio (até o último dia de coleta, dia 15) de 2020, há um total de 165. Em maio de 2021, há 103 reportagens sobre a COVID-19.

Em 2021, as crises políticas envolvendo o Ministério da Saúde também foram visualizadas. Em 15 de março, ocorre a saída do general Pazuello; no dia 27 do mesmo mês inicia a vacinação e no dia 16 de abril começa a CPI da COVID do Senado Federal. Ou seja, no mesmo período de análise entre os anos de 2020 e 2021, o JN apresentou o mesmo tipo de reportagem em que, de um lado, está a cobertura da COVID-19 e, de outro, as crises políticas brasileiras.

A partir da Análise de Conteúdo, infere-se que no ano de 2021 a vacinação foi o grande teor das reportagens. Isso pode ser explicitado, de forma indireta, pelas manchetes visualizadas durante o período de coleta dos dados. O Brasil foi um dos últimos países a iniciar a vacinação da população e nesse processo houve inúmeros problemas políticos de compra de vacina, de insumos, entre outras problemáticas.

Todavia, a partir desse estudo comparativo observou-se que o ano de 2020 apresentou uma maior quantidade de reportagens sobre a pandemia. Logo, compreende-se que a monotematização da cobertura jornalística no JN foi maior entre os meses de janeiro a maio de 2020, do que em 2021, como aponta o Gráfico 1:


Gráfico 1
Crescimento da monotematização da cobertura noticiosa do JN em 2020 e 2021
Fonte: elaboração própria (2021).

Os dois períodos analisados apresentam momentos de crescimento, de pico e também de queda. Mas, enquanto no ano de 2020 houve 911 reportagens, em 2021 visualizou-se 815. São números próximos, que explicitam o poder da temática frente a cobertura jornalística, mas que sinaliza para uma volta da cobertura de outros temas no telejornal.

Como salientado, a monotematização não é algo inédito. Contudo, nesse momento da história brasileira e do mundo, observa-se que todo um redirecionamento dos esforços do telejornal e sua equipe para enfatizar a cobertura da pandemia. Assim, como discutir os problemas políticos que podem ser visualizados como uma pausa nessa cobertura monotemática.

Considerações finais

O estudo empreendido neste artigo aponta, frente ao dimensionamento, o avanço de casos e espalhamento do novo coronavírus desde a China até a sua chegada no Brasil. A cobertura jornalística do JN tornou-se monotemática a partir da preocupação de organizações como a OMS e o desconhecimento sobre os efeitos do vírus, as formas de contágios e as orientações sanitárias com seus devidos cuidados. Assim, desde o mês de janeiro de 2020, o JN noticiou alguns informes sobre o surgimento do novo coronavírus, mas sem grandes alardes por ser um caso ainda restrito na cidade chinesa de Wuhan.

Contudo, no mês de fevereiro os casos foram se agravando e um número expressivo de casos de mortes foram sendo registrados e noticiados pelo jornalismo internacional. No dia 11 de março de 2020, a OMS decreta a pandemia, e com isso há uma maior concentração da cobertura jornalística sobre a COVID-19 neste mês, aqui no Brasil, e, especificamente, no telejornal analisado.

Na comparação entre os dois anos, percebe-se que eles apresentam um mesmo padrão: crescem, têm um pico e iniciam uma queda. Todavia, o ano de 2020 apresenta um total de 911 reportagens e o ano de 2021, um total de 815. No primeiro ano, as notícias eram voltadas de forma geral, uma vez que a COVID-19 era mais desconhecia da população e se alastrou de forma rápida e intensa. Já em 2021, o foco centrou-se na vacinação e nos problemas que estavam em volta desse processo. Além disso, os dois anos analisados apresentam crises políticas, que fazem com que essa cobertura monotemática seja paralisada, momentaneamente.

Conclui-se, que a monotematização identificada na cobertura jornalística do JN implicou no direcionamento de todos os esforços da equipe do telejornal para noticiar, narrar e explicitar as ocorrências, os fatos e as transformações do novo coronavírus. A partir de uma atualização contínua e apresentação de dados atualizados cotidianamente sobre o avanço do vírus, número de infectados, de vítimas fatais de cidades e estados brasileiros que mais apresentam surtos da doença. Todavia, os anos de 2020 e 2021, no mesmo período, são similares acerca dessa cobertura monotemática da COVID-19. O que sinaliza, inicialmente, para um processo de repetição do mesmo modo como a cobertura vem sendo realizada pelo JN.

Referências

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CORREIA, J. C. O admirável mundo das notícias: teorias e métodos. Covilhã: LabCom Books, 2011.

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WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

Notas

1 A teoria do Gatekeeper surgiu pela primeira vez no ano de 1947, criado pelo psicólogo alemão Kurt Lewin, a partir de suas observações que levantaram a possibilidade da mudança de hábitos alimentares de uma população. Lewin presumiu que nem todo membro de uma comunidade dispõe de igual prestígio para escolher entre quais alimentos vão ou não para a mesa, ao perceber que nos canais por onde escorrem a sequência de comportamentos, certas regiões podem funcionar como cancelas ou porteiros restringindo ou não a passagem dos itens alimentícios (CORREIA, 2011).

Autor notes

Paulo Eduardo Silva Lins Cajazeira

Pós-doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade da Beira Interior (Portugal). Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo. Professor Associado da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Biblioteconomia (PPGB/UFCA). Pesquisador do Laboratório de Pesquisa Avançada em Jornalismo - LABJor/UFPEL.

José Jullian Gomes de Souza

Mestre em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Cariri. Bacharel em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará. Pesquisador do Centro de Estudos e Pesquisa em Jornalismo - CEPEJor/UFCA.

Cleide Luciane Antoniutti

Pós-doutora em Comunicação pela Universidade Federal do Paraná. Doutora em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ/IBICT). Pesquisadora do Centro de Estudos e Pesquisa em Jornalismo (CNPq/CEPEJor ). Professora Adjunta da Universidade Federal do Cariri, Curso de Jornalismo.

Wesley Guilherme Idelfoncio Vasconcelos

Bacharel em Jornalismo pela Universidade Federal do Cariri (UFCA). Membro do Centro de Estudos e Pesquisa em Jornalismo (CNPq/CEPEJor).

Lucas Sobreira Galvão Sales

Graduando em Jornalismo pela Universidade Federal do Cariri (UFCA). Bolsista de Iniciação Científica do CNPq/UFCA. Membro do Centro de Estudos e Pesquisa em Jornalismo (CNPq/CEPEJor).

Thais Suiane Santos da Silva

Bacharela em Jornalismo pela Universidade Federal do Cariri (UFCA). Membro do Centro de Estudos e Pesquisa em Jornalismo (CNPq/CEPEJor).

Contribuição das autoras Paulo Eduardo Silva Lins Cajazeira, José Jullian Gomes de Souza, Cleide Luciane Antoniutti, Wesley Guilherme Idelfoncio Vasconcelos, Lucas Sobreira Galvão Sales e Thais Suiane Santos da Silva participaram ativamente de todas as etapas de elaboração do manuscrito.
Editora responsável: Maria Ataide Malcher

Assistente editorial: Weverton Raiol

E-mail: paulo.cajazeira@ufpel.edu.brE-mail: jullianjose64@gmail.comE-mail: luciane.antoniutti@ufca.edu.brE-mail: wesleyguilherme1998@gmail.comE-mail: juazeirodonorte2016@gmail.comE-mail: thays7303@gmail.com

Declaração de interesses

Conflito de interesse Os autores declaram que não há conflito de interesse.


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