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A cidade nos gestos memorativos do caderno Cultura de Zero Hora: o cronotopo da crônica e dos colunistas
La ciudad en los gestos memoriales del cuaderno Cultura de Zero Hora: el cronotopo de la crónica y los columnistas
The city in the memorial gestures of Zero Hora’s Cultura supplement: the chronotope of the chronicle and the columnists
Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, vol. 45, e2022106, 2022
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM)

Artigos


Recepção: 20 Outubro 2020

Aprovação: 28 Fevereiro 2022

DOI: https://doi.org/10.1590/1809-58442022106pt

Resumo: Este artigo resulta da pesquisa Jornalismo, memória e cidade: estudo do suplemento Cultura de Zero Hora (2011-2014), que buscou problematizar os gestos memorativos de um suplemento cultural na representação jornalística da cidade. No recorte, analisamos os cronistas Luís Augusto Fischer, Ricardo Chaves e Ismael Caneppele que tiveram colunas fixas no caderno, considerando que são pontos de vista singulares sobre a cidade, mediadores regidos pelas experiências do vivido e do pertencimento que fundam um lugar. Apoiados na análise narrativa, concentramo-nos nas representações da cidade propostas pelos cronistas, pelos modos com que se movimentam nela, o mapa que habitam afetivamente, quais lugares recebem visibilidade e valor, resultando em uma topografia singular. Encontramos no suplemento cultural um ambiente propício para a fusão de sinais que caracterizam o cronotopo, ou seja, índices de tempo que transparecem no espaço e, vice-versa, o espaço que se reveste de sentido por ser medido pelo tempo.

Palavras-chave: Crônica, Cidade, Suplemento Cultura (ZH), Jornalismo cultural, Cronotopo.

Resumen: Este artículo resulta de la investigación “Periodismo, memoria y ciudad: estudio del suplemento Cultura de Zero Hora, que buscó problematizar los gestos memoriales de un suplemento cultural en la representación periodística de la ciudad. En el recorte, analizamos a los cronistas Luís Augusto Fischer, Ricardo Chaves e Ismael Caneppele que tuvieron columnas fijas en el cuaderno, considerando que son puntos de vista únicos sobre la ciudad, mediadores regidos por las experiencias de vivir y pertenecer que fundan un lugar. Apoyados en el análisis narrativo, nos enfocamos en las representaciones de la ciudad propuestas por los cronistas, por las formas en que se mueven en ella, el mapa que habitan afectivamente, qué lugares reciben visibilidad y valor, dando como resultado una topografía única. Encontramos en el suplemento cultural un ambiente propicio para la fusión de signos que caracterizan el cronotopo, es decir, índices de tiempo que se transponen en el espacio y viceversa, el espacio que se siente al ser medido por el tiempo.

Palabras clave: Crónica, Ciudad, Suplemento Cultura (ZH), Periodismo Cultural, Cronotopo.

Abstract: This article is the result of the research Journalism, memory and city: study of the supplement Cultura of Zero Hora (2011-2014), which problematize the memorable gestures of a cultural supplement in the journalistic representation of the city. Here, we analyzed the chroniclers Luís Augusto Fischer, Ricardo Chaves e Ismael Caneppele who had fixed columns in the suplemment, considering that they are a special point of view about the city, mediators governed by the experiences of living and belonging. Based on the narrative analysis, we focus on the representations of the city proposed by the chroniclers, the ways in which they move around it, the map they affectively inhabit, which places receive visibility and value resulting in a singular topography. We find in the cultural supplement an environment propitious for the fusion of signs that characterize the chronotope, that is, time indexes that appear in space and, vice versa, the space that makes sense because it´s measured by time.

Keywords: Chronicle, City, Supplement Cultura (ZH), Cultural Journalism, Chronotope.

Introdução

O caderno Cultura, de Zero Hora (ZH, Rio Grande do Sul), foi um dos suplementos culturais mais longevos do Brasil que, somente na sua versão semanal impressa, circulou durante 22 anos ininterruptos (1992-2014) apostando especialmente no mercado editorial, na divulgação do livro e da literatura, além da ênfase na proximidade e no local, características basilares da concepção editorial e mercadológica do jornal1. Ao estudar a fase final de circulação do caderno, entre os anos de 2011 e 2014, percebemos que, mais do que fazer conhecer, o jornalismo cultural, uma das formas de registro e rememoração de uma determinada sociedade, estabelece-se como atividade para fazer re-conhecer. Ele convoca o leitor a uma relação de reconhecimento da dimensão espaço-tempo: uma herança, uma biografia, uma cidade. Este artigo resulta da pesquisa Jornalismo, memória e cidade: estudo do suplemento Cultura de ZH (2011-2014)2, que buscou problematizar os gestos memorativos de um suplemento cultural na representação jornalística da cidade.

Neste recorte, buscaremos dar protagonismo a três cronistas que tiveram colunas fixas no caderno semanal durante o período analisado: Luís Augusto Fischer, Ricardo Chaves e Ismael Caneppele. O entrecruzamento de seus pontos de vista implicou em distintas perspectivas sobre a cidade a partir de um mesmo espaço material de transmissão, o suplemento. Entendemos que os cronistas são intérpretes da urbe, seus leitores especiais. Falam a partir de um lugar privilegiado, o intelectual na/da cultura letrada. São mediadores regidos pelas experiências do vivido, dos afetos e do pertencimento que fundam um lugar.

Na vastidão da fortuna crítica que envolve o tema cidade e memória, amparamo-nos em autores de distintas tradições, além de referenciais da Geografia, a fim de iluminar o segmento do jornalismo de cultura, particularmente o suplemento semanal e o gênero da crônica. Nesse sentido, considerando a indissolubilidade da dimensão espaço-tempo, defendida por Bakhtin (1993)3, podemos lançar mão da figura do cronotopo, tão bem apresentada pelo filósofo russo na sua teoria do romance. O autor nos explica que os índices do tempo transparecem no espaço que se reveste de sentido ao ser medido pelo tempo. Este cruzamento de séries formaria o cronotopo artístico, no qual haveria a fusão dos indícios espaciais e temporais em um todo compreensivo e concreto, ou seja, um lugar de condensação dos traços da passagem do tempo no espaço. Aproximamos, aqui, a figura do cronotopo dos gestos de leitura do suplemento cultural sobre a cidade, como veremos a seguir.

O texto da cidade e o jornalismo: o cronotopo do suplemento cultural

Entre vários teóricos estudados, são muitas as aproximações entre a cidade e a escrita, entre a cidade e o livro. Do rabisco ao livro, o filósofo Lefebvre (1999, p. 114) sublinhou que “a cidade se escreve, nos seus muros, nas suas ruas”, uma escrita infinita, um livro com muitas páginas em branco ou rasgadas. Seguimos, portanto, a metáfora da urbe como um emaranhado de textos que se somam, se interpenetram, que disputam visibilidade e o protagonismo da memória, tanto que o tamanho de uma cidade não significa necessariamente sua dimensão física ou populacional, mas sim a quantidade de relatos que produz (REGUILLO, 2001 apud MONTES, 2014). A imagem do palimpsesto, de uma escrita sobre outra, traduz esta perspectiva de leitura que considera a cidade como matriz de textos superpostos (PESAVENTO, 2004).

Vale pontuar que, historicamente, foi no espaço urbano que se forjou um sentido material e cíclico de transmissão da cultura. Afinal, a disponibilidade de armazenagem (tabuinhas, livros, prédios, monumentos) fez com que a cidade cumprisse uma de suas principais funções, a de transmitir a herança de uma cultura complexa de geração a geração (MUMFORD, 1998).

A partir do contexto urbano, o jornalismo se constituiu em um potente narrador. Na medida em que o fluxo de informações seguiu o movimento do comércio e do capital, a instituição jornalística, ao ganhar impulso na Modernidade, foi uma espécie de bússola para o enfrentamento da experiência das grandes cidades, especialmente a partir do século XIX. Em uma via de mão dupla, a produção jornalística e suas práticas textuais se adaptaram ao cotidiano urbano ao mesmo tempo em que influíram nele, ajustando tanto o senso abstrato do tempo como os lugares a serem iluminados ou, então, escondidos (PARK, 1987; SCHUDSON, 2010, FRANCISCATO, 2005; BENJAMIN, 1991).

Cenário da fantasmagoria das mercadorias, a urbe possibilitou consolidar um novo sentido de tempo para além dos ritmos naturais, posicionando relógios nas torres das igrejas, por exemplo. O tempo qualitativo das estações do ano foi confiscado pela jornada de trabalho da produção capitalista, pelo consumo e circulação de mercadorias, pelo movimento compulsivo de novidades: “O modo de produção de mercadorias e o apelo ao consumo não prevê repouso ou contemplação, pois, à maneira dos mercados financeiros, o homem não deve dormir nunca” (MATOS, 2006, p. 1123).

Do jornal às mídias subsequentes, todas foram implicadas no movimento contínuo e veloz do capital, conformando uma temporalidade que privilegia o horizonte do tempo presente. Porém, da mesma forma que aceleram o tempo, as mídias estruturam e formatam a cultura da memória (HUYSSEN, 2000). Considerando que o campo jornalístico também se posiciona como um importante articulador da memória (ZELIZER, 2014), encontramos no jornalismo cultural um segmento resistente, em certa medida à lógica do presente veloz que achata o horizonte histórico (GOLIN; CAVALCANTI; COUSIN, 2018).

Vejamos, por exemplo, a temporalidade do suplemento cultural, os cadernos semanais encartados nos jornais impressos que tiveram seu auge no século XX. Concebido no âmbito das lógicas editoriais do impresso, constitui uma montagem de fragmentos heterogêneos (materiais jornalísticos, textos analíticos e excertos ficcionais, eventualmente) ancorados pela data da edição. Esses fragmentos estão articulados em forma de mosaico, atravessados pela superposição de temas e temporalidades distintas. Cada publicação expressa uma política editorial na leitura da cultura e exerce seu poder de demarcar espaços de conhecimento e de circulação de saberes (BAREI, 1999).

Podemos pensá-lo, também, como uma espécie de heterotopia4, novamente a dimensão do espaço-tempo, em relação ao corpo do jornal, ou seja, ele se contrapõe às demais narrativas efêmeras e factuais produzidas na redação jornalística ao propor o tempo longo de leitura e vinculação. Vemos aqui os rastros do conceito etimológico da revista, ou seja, o ato da re-vista, de examinar, de inspecionar mais detidamente, pressupondo o exercício da crítica e do ensaio e, portanto, da reflexividade em relação ao passado e ao porvir, reflexividade essa inscrita no agendamento do presente.

Nesta moldura, os estudos realizados sobre o caderno Cultura de ZH apontaram para a leitura da cidade por meio da ênfase comemorativa dos aniversários e das efemérides, pela divulgação da vida e morte de sujeitos notáveis, entre outros gestos de mobilização da lembrança. Não é à toa que um suplemento estruturado editorialmente na expertise faça do prestígio do saber a sua principal mirada. Conforme nossos estudos, vimos que o caderno projetou uma topografia feita dos rituais e lugares de distinção – especialmente aqueles acadêmicos e/ou que outorgam prestígio no sistema de cultura. Da mesma forma, destacou determinadas biografias e inseriu a notabilidade de suas ações na história cultural de um lugar (COSTA, 2018).

Encontramo-nos aqui com as categorias estabelecidas por Cavalcanti (2020) ao analisar os gestos mnêmicos do jornalismo cultural. As categorias elencadas pela autora, efeméride, crítica e diacronia, apontam para um ethos do jornalismo cultural nas suas práticas de atribuir valor e mediar o sistema de cultura. Ao analisar veículos como a revista Cult e Nexo, a autora defende que o jornalismo cultural atua no sentido de enfatizar uma produção de memória que trabalha contra a tendência simplesmente informacional, em favor da crítica e da contextualização. Ao não depender da vinculação temporal cronológica para ser dotado de relevância, esse segmento produz uma temporalidade que, por meio de um universo prefigurado latente, dá margem à emergência do passado enquanto lugar profícuo de reconhecimento e entendimento do presente. Logo, a temporalidade do jornalismo cultural reflete não apenas uma representação do passado, mas uma apresentação dele, uma construção que reverbera a partir do presente. Ao enxergar o atual como ponto de fricção em que passado e futuro são encadeados, cria-se uma abertura à diacronia, ou seja, a uma reconfiguração que se dá ao longo do tempo, permitindo múltiplas leituras de um mesmo material. Nesse sentido, a topografia promovida pelo suplemento, entendida como escrita temporal sobre o espaço, também é demarcada por aquilo que Cavalcanti (2020) descreve como medium-de-reflexão5.

Leitura da topografia da crônica

Em busca, então, de problematizar a topografia construída a partir do suplemento, fizemos uma primeira leitura panorâmica e catalogação do corpus (coleção de jornais)6, delimitando amostras reduzidas dentro da perspectiva de análise narrativa (CULLER, 1999; MOTTA, 2013). Uma dessas amostras foi, justamente, a visada de alguns dos colunistas mais frequentes. No conjunto das colunas, procuramos encontrar repetições e regularidades com foco especialmente nas projeções de espacialidades entendidas como relações. Palmilhamos espacialidades que se repetem, se sincronizam, e que apontam para lugares biográficos, físicos e simbólicos. Esta leitura interpretativa foi conduzida tanto pelas pistas encontradas no próprio objeto quanto na armadura teórica que ilumina a pesquisa. Neste sentido, nos é bastante cara a dimensão conceitual do lugar7 como um construto simbólico, tecido pelas relações sociais, pelos sentidos impressos pelo uso e pelo vivido, aquilo que se vincula ao conhecido e reconhecido e que diz respeito às formas de habitar a cidade.

Voltamo-nos agora aos três colunistas que tiveram espaços fixos no caderno de Cultura de ZH durante o período estudado, Luís Augusto Fischer, Ismael Caneppele e Ricardo Chaves. Considerando o perfil de suas colunas, definimo-los como cronistas culturais. Relembrando, cronistas são intérpretes privilegiados, eles nos apresentam um saber informativo e afetivo sobre a cidade e lançam sobre ela uma topografia. Enquadramos esta palavra no sentido que fala Vecchi (2015), de que a topografia é um campo onde se procura inscrever, discursiva ou graficamente, a materialidade de memórias, representações, forças que atravessam e moldam o espaço. Ou seja, trata-se de um denso emaranhado de relações entre memória coletiva, recordações e lugares, algo que fica explícito, por exemplo, na toponímia das ruas (desde que elas não estejam situadas pela abstração do número). Ali, vê-se um manto simbólico impregnado de nomes e de evocação de episódios da história oficial, dos notáveis ou das referências pregressas do lugar e outros tipos de homenagens.

Da toponímia, passamos a outra forma do tempo de memória: a crônica, gênero de escritura socialmente legitimado e que carrega chronos na raiz etimológica. Se pensarmos que o gênero é uma instância reguladora, que estabelece fronteiras e direciona um horizonte de expectativas para o leitor (MONTES, 2014), encontramos na crônica um terreno movediço, de fronteiras instáveis, ora literatura, ora jornalismo, ora o que o autor definir como crônica. Ancorada em uma escola de considerável tradição, a crônica brasileira adquiriu independência estética e pôde inscrever variações estilísticas em seu modo criativo. Particularmente, tornou-se uma espécie cúmplice da cidade, registro do instante, do cotidiano, da conversa ao rés do chão e da oralidade (CANDIDO, 1992).

O jornal ZH, desde a sua origem em 1964, apresentou-se como um jornal de cronistas – colunistas. O suplemento Cultura também os valorizou editorialmente, escolhendo basicamente nomes masculinos no período que estudamos8. Com abordagens distintas, como mostraremos a seguir, todos estiveram presentes no espaço autoral da coluna, seja ela de meia página ou de página inteira, atravessada por comedidas ilustrações (no caso de Fischer e Caneppele) e fotografias (temática central em Ricardo Chaves).

Vimos que o suplemento é uma montagem de fragmentos, um mosaico de temas e temporalidades. Os cronistas narradores, por sua vez, são perspectivas, janelas de onde se observa e se narra. Ou seja, o espaço como focalização possibilita tanto um espaço observado como um espaço que torna possível esta observação (BRANDÃO, 2013). Apoiados, como dissemos, na análise narrativa (CULLER, 1999; BRANDÃO, 2007), basicamente vamos nos concentrar nas representações da cidade, pelos modos como os cronistas se movimentam nela, o mapa que habitam afetivamente e quais lugares recebem visibilidade e valor.

As janelas dos cronistas

Começamos com Luís Augusto Fischer, professor de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, escritor e ensaísta, que teve a coluna mensal Pesqueiro, publicada entre os anos de 2011 e 2014, resultando em 39 colunas analisadas na coleção. Fischer olhou a cidade especialmente pela lente de professor, intelectual e crítico, narrador-analista dos movimentos e circunstâncias que atravessam a cultura do lugar. As marcações de efemérides também foram motivos para reflexões propostas na coluna Pesqueiro, ou seja, houve uma ancoragem no factual e/ou contemporâneo, mas a perspectiva contextual histórica e as memórias pessoais conduziram a conversa com o leitor.

A representação de determinadas espacialidades predominou no conjunto das crônicas: os sistemas de transmissão, a escola e a universidade. A partir do mundo do ensino, da escrita e da leitura, o cronista foi um contundente defensor da Literatura em uma cultura que, cada vez mais, a relega ao segundo plano nos currículos formais. Neste contexto, tanto iluminou escritores contemporâneos como visitou um cânone regional nem sempre (re)conhecido pela maioria dos leitores, justificando sua importância pregressa na formação do sistema literário da cidade.

Justamente foi a cidade de Porto Alegre a principal protagonista da cronística de Fischer, tanto como personagem quanto como espacialidade, onde enlaçou suas memórias pessoais, seu saber intelectual envolto no tom da oralidade e do afeto. Sente-se a densidade do tempo de vida (pelo menos cinco décadas) do narrador na cidade, desde a infância no Quarto Distrito e no bairro São João, que fez dele cúmplice e leitor-escrevente do lugar. Ele recolheu esses fragmentos de experiência pretérita para dar sentido ao que se vive no período da escrita. Foi o caso, por exemplo, das passeatas de junho de 2013, que repercutiram em pelo menos três colunas mensais (junho, julho e agosto de 2013)9 como mote para análise dos impasses políticos e econômicos daquele ano, sobre a necessidade de se ocupar as ruas físicas e de se cultivar o “afeto” pela cidade e não a indiferença. Ao tentar captar de longe os múltiplos sentidos das manifestações, recorreu à lembrança e, no mesmo palco das manifestações, projetou a sua quadra emblemática da avenida João Pessoa, tendo a Casa do Estudante de um lado, a faculdade de Economia de outro, e no meio uma passeata em que participara defendendo a bandeira da Anistia e Constituinte Livre em 1977.

A condição provinciana de Porto Alegre, na posição sempre conflituosa com a centralidade hegemônica do eixo Rio de Janeiro-São Paulo, é tema caro ao autor. Ao tocar nos processos culturais que demarcam o quanto o espaço é uma relação social (BOURDIEU, 2007) marcada por hierarquias, exclusões e violência simbólica, aquela que se efetua porque é naturalizada, o autor desfiou sua rede de pesca. Puxou fragmentos sobre temas tão díspares como afins, desde a invenção de tradições (a do gaúcho e suas bravatas, por exemplo) até o arbítrio da Semana de Arte Moderna (1922), passando pela dificuldade de reconhecer o valor do entorno quando o parâmetro é superestimar o forâneo.

Desta visada reflexiva fincada no território, cujo cronotopo principal de produção, em sentido amplo, se assenta no escritório de escrita e de leitura, janela por onde o cronista focalizou seus temas, passamos a outro autor. Ao contrário de Fischer, o escritor Ismael Caneppele participou brevemente como colunista, porém trouxe um novo horizonte para a crônica produzida ali. Roteirista, ator e diretor, Caneppele produziu duas séries para o suplemento: Diário de Berlim, entre outubro e novembro de 2011, quando se transferiu do Rio Grande do Sul para a Alemanha, e A estética do calor, cujo título é uma alusão à chamada estética do frio10 e que demarcou o retorno de Caneppele ao sul do Brasil no início de 201311. São doze textos seriados que tensionam a proximidade pelo olhar do estrangeiro e do deslocamento físico.

No conjunto, percebemos que a escrita se produziu a partir da observação das ruas, de suas materialidades, personagens, na tradição do escritor como caminhante, em que o deslocamento produz a escrita. Há pelo menos quatro pontos recorrentes nos textos que parecem, juntos, concentrar a visão do cronista sobre o espaço físico (des)conhecido: a recorrência à memória, o presente como confluência de tempos (passado-futuro), o amálgama sujeito-espaço e a força da condição climática. A crônica intitulada A cidade é uma mulher é representativa, por exemplo, da sensibilidade do autor em se aproximar e traduzir cidades desconhecidas por meio de personagens. No caso, Berlim transmutou-se em mulher e, nessa metáfora recorrente na literatura sobre cidades, o cronista viu no “charme” da berlinense, que se deixa envelhecer sem tapear a passagem dos anos no corpo, a imagem de uma cidade que muda consciente do passado, que valoriza materialidades físicas e simbólicas no acumulado de tempo, a cidade palimpsesto: “Berlim é um instante eterno para quem ousa habitar o seu gelado concreto atual. Um tempo presente que contém o eterno em quase todas as suas esquinas” (CANEPPELE, 2011a, p. 2).

Ao caminhar e vagar entre ruas e cabines de metrô, Ismael Caneppele costumava deslocar o ponto de vista em conversas com os habitantes. Por meio deste recurso, fez analogias e conduziu superposições entre seu país de origem e aquele que o recebeu, misturou situações, imagens e tempos. Na crônica de 12 de novembro de 2011, no diálogo com um professor de arquitetura que planejava visitar o Brasil, discorreu sobre as fronteiras invisíveis na Berlim pós-muro, sobre as múltiplas realidades que convivem sem se misturar, ao mesmo tempo em que recordou o atropelamento coletivo de ciclistas em Porto Alegre ocorrido em fevereiro daquele ano e cujo vídeo havia viralizado para o horror dos berlinenses, “ciclistas de alma” (CANEPPELE, 2011b, p. 2).

Um ano após a publicação da primeira série no caderno, Caneppele fez da sensação climática o fio condutor para captar sensibilidades do entorno, ainda impregnado pelo frescor e estranhamento de quem havia recém voltado de viagem, da experiência de deslocamento. Em Estética do calor, o cronista reforçou a relação do clima com as formas de imaginar e habitar o espaço, buscou apreender o contraste e a dialética frio-calor que identifica o sulino. Como contraponto ou dissonância à estética do frio, o conjunto dos textos reflete sobre os modos de viver durante os meses quentes de verão no hemisfério sul e convida a um mergulho “sem medo” no calor porto-alegrense e cidades relativamente próximas.

Dos oito textos dessa série, sete foram conduzidos novamente por um personagem. Ou seja, foi por meio da relação com um outro (geralmente um amigo), que ele multiplicou perspectivas sobre o cotidiano presente. Os personagens se movimentaram em Porto Alegre, em Lajeado (cidade natal de nosso cronista), em Pelotas. Contudo, na geografia iluminada pelo ciclo sazonal de temperatura elevada, nota-se o contraste da palidez da ruína, da falta, da perda que reverbera nas crônicas por meio de situações vividas pelos personagens. O caminhar do cronista novamente se sobressai; através da ação peripatética, vem à tona uma história reflexiva. Foi o caso do amigo que visitou o bairro Menino Deus e que buscou em cada esquina partes perdidas de si, indiciando a estranheza de um lugar habitado mais na memória do que no cotidiano (CANEPPELE, 2013).

Outro colunista presente com uma página mensal entre 2011 e 2014 foi Ricardo Chaves, fotógrafo do jornal ZH desde 1992. Intitulada Reflexo, a coluna teve como tema principal a fotografia a partir de uma ótica bem particular, ainda que pautada pelos ganchos jornalísticos de eventos regionais e nacionais da área, efemérides, homenagens e a descoberta de arquivos. Chaves captou a lógica temporal do suplemento no ritmo cíclico de reconhecimento simbólico das efemérides. Ao mesmo tempo, nesse movimento, produziu uma escrita de si em fragmentos compostos de textos breves e registros fotográficos. Se pegarmos a primeira coluna (05 de fevereiro de 2011), vemos que o autor nos convida a acompanhar, pela imagem fotográfica, o primeiro encontro de um menino com o mar naquele verão sulino, flagrando-o em um olhar contemplativo desde uma duna na praia de Capão da Canoa. A seguir, enquanto vê-se o menino já entrosado nas brincadeiras de areia, Chaves acresce na página suas fotos pessoais de infância, atravessando a mesma situação e a mesma praia com imagens de pelo menos 50 anos antes12.

O gesto de folhear álbuns aponta para o cronotopo síntese da coluna Reflexo, não o flagrante que marcou o exercício do fotógrafo no jornalismo diário, mas o lento contemplar da fotografia em formato de crônica, da sua tentativa de congelar o tempo que flui sem parar. Imerso em um contexto em que o ato de fotografar passa a ser um modo de estar e autenticar o mundo, Chaves concentrou-se no tempo analógico da foto impressa e a sua condição de vestígio. Assim, abriu o álbum de fotos de sua mãe quando moça nos anos 1940, montado com o capricho das frases-legenda, e abriu também seu álbum pessoal: ao completar 60 anos, em julho de 2011, reuniu retratos de seus aniversários desde a infância13.

Na toada da reminiscência, o fotógrafo assumiu a lente do arqueólogo, revelou especial apreço pelo encontro de acervos inéditos, pelas descobertas de coleções de fotografia no interior de residências ou nas casas de fazenda do interior do Rio Grande do Sul. O matiz nostálgico do cronista se expressou mais pela consciência da ruína e da perda do que exatamente pela idealização do passado. Nessa perspectiva, enquadrou imagens da cidade de Porto Alegre especialmente entre as décadas de 1940 e 1970, imagens do deslocamento de bondes, cenas da emblemática luta pela Legalidade, em 1961, no palácio Piratini. Em determinadas situações, lamentou a falta de cuidado com a memória material e arquitetônica da cidade e também o pouco-caso do poder público com a guarda material das fotografias.

No conjunto, torna-se perceptível a defesa das qualidades que singularizam o artesanato dos fotógrafos de profissão, o trabalho de contemporâneos premiados e, sobretudo, dos expoentes da escola da fotografia produzida no Rio Grande do Sul, da qual Chaves é egresso. Ao falar de seus colegas, fala de si, de sua formação, e pondera sobre a radical mudança da prática cultural de fotografar.

Cruzamento dos percursos

Na urbe, o espaço é dividido, fragmentado, separado pelos muros visíveis e invisíveis das relações sociais e hierárquicas, territórios que a escrita topografa. Pela análise das colunas publicadas no suplemento Cultura, inferimos que os três autores escolhidos recortam geograficamente a cidade conduzindo uma espécie de escrita (auto)biográfica. Em comum, procuram compreender as relações polissêmicas (sociais, políticas, culturais, econômicas) que dizem respeito não apenas ao espaço físico, mas também a seus habitantes. Os cronistas dão sentido ao lugar por meio do plano do vivido, ou seja, da experiência e do afeto, tal qual nos ensinou Tuan (1983).

A maioria dos locais representados, especialmente nos textos de Fischer e Chaves, se situou no Centro Histórico, justamente a região de origem da cidade e que, por décadas, foi a península nuclear das relações sociais, econômicas e culturais. Mesmo que cada um deles ofereça um tipo de moldura, um modo de se ancorar e capturar o cotidiano – o gabinete de leitura de Fischer, a caminhada de Caneppele, o folhear dos álbuns de fotografias por Chaves –, a cidade escrita é aquela dimensionada pelo espaço biográfico; escrever sobre o lugar implica escrever sobre si.

Se lugar pode ser definido como uma pausa no movimento (TUAN, 1983), a longa permanência que fortalece o vínculo foi sentida especialmente em Fischer e Chaves, dois nomes que perduram durante todo o tempo da coleção de edições que analisamos. Caneppele seria o ponto de fuga e, mesmo na sua breve aparição, cumpriu a função de arejar o sentimento de proximidade cultivado editorialmente pelo jornal ZH. Os movimentos ao rés do chão do autor, de olhar uma cidade usando mapas de outras, de transferir o ponto de vista para personagens forâneos, produziu certo estranhamento típico do deslocamento.

Realçamos a sintonia fina dos três colunistas no entendimento do tecido da cidade como palimpsesto, onde é preciso escavar, onde se enxerga com o filtro da memória, de uma escrita sobre a outra. Diante de uma combinação de espacialidades distintas se justapondo e de temporalidades se cruzando, este ato de narrar permite que o espaço-tempo, em suas várias camadas, seja explicado e apreendido.

Nesse sentido, percebemos certo acento melancólico envolvendo o conjunto dos autores, característica que se sobressaiu em Caneppele e que ganhou acento nostálgico em Chaves. Porém, reafirmamos, não se trata da nostalgia que idealiza ou paralisa, mas do sentimento de olhar o presente com a consciência de que algo se perdeu e que não retorna. O presente e o futuro, desenhados por esse viés, impõem o passado como condição. O passado que invade presente e futuro no signo da ruína, sob a consciência da perda, da impermanência e da finitude (CASSIN, 2014).

Considerações finais

Por fim, ponderando sobre a dimensão regional e historicamente demarcada de nosso “estudo de caso”, acreditamos que, por mais que ele reverbere, sim, um contexto específico, temos ali pistas mais amplas de exploração. Em primeiro lugar, apreendemos que as representações sobre a urbe nos indicam o quanto um lugar geográfico é sempre antecipado por tudo aquilo que se diz e se prediz sobre ele. Ou seja, é um produto narrativo feito das manifestações físicas, dos discursos e das falas que produz (OLIVEIRA JÚNIOR, 2014). Dentro da trama de textos que sustenta o tecido vivo da cidade, vimos o quanto o jornalismo a habita produzindo relações de tempo e espaço.

Se toda a relação espacial implica em uma relação de poder, encontramos no suplemento a construção de um espaço distintivo pelo recrutamento de especialistas. Na condição heterotópica de ser contraponto ao tempo efêmero do presente jornalístico, o suplemento cultural – e, sublinhamos, parte significativa do jornalismo cultural –, se constitui em ambiente propício para a fusão de sinais que caracterizam o cronotopo, ou seja, índices de tempo que transparecem no espaço e, vice-versa, o espaço que se reveste de sentido por ser medido pelo tempo.

Ao produzir gestos mnêmicos sistemáticos como política editorial, o caderno Cultura de ZH demarcou uma topografia feita da materialidade das memórias que incidem no espaço representado, especialmente no espaço representado de Porto Alegre. Os colunistas escolhidos, Luís Augusto Fischer, Ricardo Chaves e Ismael Caneppele, foram agentes especiais na tessitura de cronotopos que, como lembra Bakhtin (1993), buscam ganhar sentido no mundo e no acionamento dos cronotopos dos leitores.

Cada qual abriu distintas focalizações sobre a urbe a partir daquilo que constitui o lugar, o espaço da experiência vivida, onde se rememora, se inventa, se autoficciona (no sentido de algo modelado e construído) para conhecer-se a si mesmo. Nesse percurso, destacamos a potência da crônica jornalística como uma das figuras do cronotopo, ao mostrar a cidade como escrita (auto)biográfica, feita pelo traçado do pessoal e do social, do indivíduo e do coletivo em que flanar no espaço implica, sobretudo, viajar pelo tempo (BENJAMIN, 1997).

Referências

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Notas

1 Desde 1992, o caderno Cultura intentou contemplar temas abrangentes e servir como fórum para aproximar o repertório especializado de um público supostamente mais amplo. Em duas décadas de existência, circulando sempre aos sábados, assumia-se como espaço hegemônico de mediação de saberes no contexto da imprensa diária do Rio Grande do Sul.
2 Este projeto foi desenvolvido por meio de Bolsa Produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
3 Bakhtin (1993) toma emprestado o termo das ciências matemáticas a partir da fundamentação de Albert Einstein (teoria da relatividade) como uma “quase” metáfora, realçando especialmente a indissolubilidade do espaço-tempo.
4 Em “Outros espaços”, Foucault (2009) pondera sobre as heterotopias como lugares reais, efetivos, ligados a recortes de tempo (heterocronias) que são espécies de contrapontos no interior de uma cultura.
5 Ao reler Walter Benjamin, Cavalcanti (2020, p. 99) pondera: “A vivência superficial da cultura a qual muitas vezes o jornalismo nos submete é, portanto, um espelho da temporalidade que o envolve, cuja memória produzida tende a ser cercada e condenada ao esquecimento. Contudo, o jornalismo cultural, enquanto principal mediador na imprensa da arte e da crítica, contém em si a faculdade de auscultar o passado denegado pela temporalidade da mercadoria e voltar a se entusiasmar com ele, intensificando-o, levando-o adiante e tornando-o uma realidade mais efetiva e vigorosa”.
6 Foram catalogadas 173 edições correspondentes à fase final de circulação do caderno. Um detalhamento da perspectiva metodológica e do trabalho realizado na pesquisa encontra-se em Golin e Rizzatti (2018, p.18-38).
7 O conceito de lugar abarca uma profusão de sentidos conforme a bibliografia acionada. Interessa-nos seguir a perspectiva de Carlos (2007) de que a produção espacial se realiza no plano do cotidiano e aparece nas formas de apropriação, utilização e ocupação de determinado lugar.
8 É importante sublinhar que estamos nos referindo, exclusivamente, ao suplemento Cultura na sua fase final de 2011 a 2014, quando não se registrou colunistas mulheres. Por outro lado, Zero Hora caracteriza-se pela publicação de diversos tipos de cadernos onde estão colunistas como Martha Medeiros, Claudia Laitano, Diana Corso, Julia Dantas, só para citar algumas.
9 As colunas são: Muitas classes médias, Zero Hora, Porto Alegre, 22 jun. 2013. Cultura, p. 8; A voz das ruas, Zero Hora, Porto Alegre, 27 jul. 2013. Cultura, p. 7; A cidade e a indiferença, Zero Hora, Porto Alegre, 17 ago. 2013. Cultura, p. 7.
10 Cunhada pelo compositor e músico Vítor Ramil.
11 A primeira série, Diário de Berlim, é publicada entre 15 de outubro e 26 de novembro de 2011. A segunda série, A estética do calor, é publicada entre 05 de janeiro e 23 de fevereiro de 2013.
12 Mergulho em dois tempos, Zero Hora, Porto Alegre, 05 fev. 2011. Cultura.
13 Face de outrora, Zero Hora, Porto Alegre, 10 nov. 2012. Cultura; Nesta data querida, Zero Hora, Porto Alegre, 09 jul. 2011. Cultura.

Autor notes

Cida Golin Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (1986), Doutora em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) (1998), Professora Titular nos cursos de Jornalismo e de Museologia da UFRGS. Coordena o Núcleo de Estudos em Jornalismo e Publicações Culturais do Laboratório de Edição Cultura & Design (LEAD-CNPq). Entre 2013 e 2019, foi Bolsista Produtividade do CNPq desenvolvendo pesquisa sobre jornalismo, memória e cidade.
Luísa Rizzatti Doutoranda em Teoria, Crítica e Comparatismo (Estudos Literários) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com pesquisa sobre Franz Kafka e cinema. É jornalista, formada pela UFRGS em 2018, com experiência na área audiovisual, sobretudo em produção de documentários. Fez parte do Laboratório de Edição, Cultura & Design (LEAD-CNPq) da Fabico/UFRGS como bolsista de iniciação científica de janeiro de 2017 a julho de 2018, contribuindo com pesquisas sobre jornalismo, cidade, memória e cultura, financiadas pelo CNPq.
Vinícius Zuanazzi Bacharel em Jornalismo pela Escola de Comunicação, Artes e Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (FAMECOS-PUCRS). Mestre em Comunicação Social pela mesma instituição (PPGCOM-FAMECOS-PUCRS), onde foi bolsista CAPES com pesquisa sobre o cartunista Henfil.
Contribuição dos autores Cida Golin foi responsável pela coordenação do projeto, obtenção de financiamento, conceituação da pesquisa e construção metodológica. Cida Golin, Luísa Rizzati e Vinícius Zuanazzi participaram ativamente do tratamento e análise dos dados e da escrita do manuscrito.
Editora responsável: Maria Ataide Malcher

Assistente editorial: Weverton Raiol

E-mail: golin.costa@ufrgs.br.E-mail: luisarizzatti@hotmail.comE-mail: zuanazzivinicius@gmail.com.

Declaração de interesses

Conflito de interesse Os autores declaram que não há conflito de interesse.


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