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Compreendendo o Quinto Estado e suas ramificações1
Understanding the Fifth Estate and its ramifications
Comprendiendo El Quinto Estado y sus ramificaciones
Intercom: Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, vol. 45, e2022401, 2022
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (INTERCOM)

Entrevistas – Diálogos Midiológicos


Recepção: 22 Fevereiro 2021

Aprovação: 02 Outubro 2021

DOI: https://doi.org/10.1590/1809-58442022401pt




Fonte: Oxford Internet Institute.

William H. Dutton é professor emérito da University of Southern California (USC), desde 2002, e afiliado ao Oxford Internet Institute (OII), como membro sênior, e ao Global Cyber Security Capacity Center (GCSCC) do Departamento de Ciência da Computação, como Oxford Martin Fellow, na University of Oxford. Em Oxford, foi, ainda, o primeiro Professor de Estudos da Internet e diretor fundador do OII, além de Fellow do Balliol College de 2002 a 2014. É professor visitante na Escola de Mídia e Comunicação da University of Leeds e foi Professor Quello de Política de Mídia e Informação no Departamento de Mídia e Informação da Faculdade de Artes e Ciências da Comunicação da Michigan State University (MSU), onde foi diretor do Quello Center de 2014 a 2018 (DUTTON, 2021).

Como diretor fundador do OII, Dutton recebeu o prêmio Lifetime Achievement Award pelo conjunto de sua obra no departamento, durante sua primeira década (2002-2011). O pesquisador foi o primeiro a receber o prêmio Fred Williams da International Communication Association por suas contribuições ao estudo da comunicação e tecnologia e também recebeu o prêmio William F. Ogburn da American Sociological Association. Em 2015, foi nomeado ICA Fellow pelo Conselho de Diretores da International Communication Association e, mais recentemente, recebeu um medalhão por suas contribuições para a Michigan State University.

Suas principais áreas de estudo envolvem questões ligadas à Internet como Informação, Comunicação, Ciências Sociais e Quinto Estado. O professor tem trabalhado com dois projetos de pesquisa: “Cibersegurança: Centro Global de Capacidade de Segurança Cibernética de Oxford” e “Quinto Estado”, pelo qual está produzindo um livro intitulado “The Fifth Estate”, que será publicado pela Oxford University Press.

Entre os principais livros publicados estão: “A Research Agenda for Digital Politics” (DUTTON, 2020); “Society and the Internet” (GRAHAM; DUTTON, 2014); “The Oxford Handbook of Internet Studies (DUTTON, 2013); “Social Transformation in an Information Society” (DUTTON, 2004); “Society on the Line” (DUTTON, 1999); e “World Wide Research” (DUTTON, 2010).

Acerca do conceito de Quinto Estado, que Dutton (2009) define como um projeto de pesquisa para examinar criticamente o papel da Internet em possibilitar novas formas de responsabilidade social democrática e voz, comparável ao Quarto Estado possibilitado pela imprensa em uma era anterior, o autor trabalha a partir do uso crescente da Internet e das tecnologias digitais por parte dos usuários, fazendo com que indivíduos em rede possam se mobilizar e supervisionar a imprensa, que seria o Quarto Estado, assim como os demais Estados, por meio das redes sociais digitais.

Neste panorama, o principal intuito desta entrevista é compreender como emergiu o conceito de Quinto Estado, bem como discorrer sobre questões relacionadas aos avanços da discussão, como usuários maliciosos, fake news e outras temáticas.

Revista Intercom – Um dos principais focos desta entrevista é o conceito de Quinto Estado, que chamou nossa atenção em 2019 (após pesquisas que buscavam compreender as novas telas para o telejornalismo, observamos a emergência de um novo poder ou Estado que poderia ser potencializado pelas redes sociais digitais e se efetivaria através da atuação dos cidadãos). A partir disso, você poderia explicar a origem do conceito e sobre sua dependência da eficácia com a expansão do acesso dos cidadãos à Internet?

William H. Dutton – Descobri o Quinto Estado antes de ter uma etiqueta para ele. Isso foi quando eu estava dirigindo o OII. Tornei-me diretor em 2002 e comecei a pesquisar sobre como o público britânico utilizava a Internet. Eu sabia que o OII deveria ter seus próprios dados originais sobre quem usa a Internet, quem não usa, e que diferença isso faz. Uma das descobertas mais interessantes ao longo do tempo foi o grau em que a busca estava se tornando cada vez mais central para a maneira como as pessoas usam a Internet. Por exemplo, de 2005 até agora, o uso da pesquisa cresceu em um terço – cerca de 2/3 do público vai olhar primeiro online quando eles precisam saber algo sobre quase qualquer tópico. E com os celulares sendo parte do cotidiano das pessoas e disponíveis a qualquer hora e lugar, assim que surge uma questão, mesmo em uma discussão entre amigos, muitas vezes você vai à Internet procurar diferentes fontes ou resolver diferenças de opinião ou fatos do caso. O que há de interessante nessa dependência da Internet e da pesquisa? Isso é importante porque, em vez de pessoas irem para uma instituição local, ou para seus amigos e familiares, ou especialistas próximos, eles vão a qualquer lugar do mundo onde possam encontrar o conteúdo que estão interessados em encontrar. Isso significa que as pessoas estão fornecendo suas próprias informações, mais independentes de instituições específicas do que nunca. Não é como se as instituições não fossem fundamentalmente importantes para gerar os bilhões de arquivos que estão nas páginas web, mas o fornecimento dessas informações é gerenciado de forma mais independente por indivíduos. Isso significa que eles são relativamente capacitados, eles têm mais poder comunicativo. O empoderamento dos indivíduos a partir do acesso à Internet, da capacidade de pesquisar e da origem das informações é relativamente maior. Existem várias outras estratégias de indivíduos em rede. Mas essa foi a primeira coisa que eu vi em que disse: “Temos pessoas que estão fornecendo suas próprias informações de forma independente e, em seguida, muitas vezes falando com os outros ou repostando o que eles aprenderam de maneiras que são análogas à imprensa em uma era anterior”. A ideia de Quarto Estado era que a imprensa estava se tornando uma fonte independente de informação e tendo acesso a milhares de pessoas por meio de suas revistas impressas e jornais. A imprensa ganhou, portanto, um poder independente, separado da base daquele desfrutado pelos Estados tradicionais, de intelectuais públicos, empresas, indústria e governo, porque a imprensa poderia responsabilizá-los diante do público. A influência da imprensa foi baseada em sua capacidade de alcançar as pessoas, e por isso era vista como poderosa. Especialmente em relação a qualquer um que não está na Internet, indivíduos em rede, que são membros do Quinto Estado, são relativamente mais capacitados. Esse foi o meu momento de iluminação, no qual as coisas se juntaram. Essa ideia é muito mais importante do que apenas o fato de que as pessoas usam a pesquisa. Há uma mudança de poder acontecendo na sociedade, através da ascensão de um Quinto Estado, que aumentará a prestação de contas e responsabilidade social e política. Claro, todas as outras instituições têm acesso à Internet e à pesquisa. As instituições usam cada vez mais as páginas de buscas e obtêm suas próprias informações, como os indivíduos cada vez mais fazem. A imprensa também. Mas a Internet pode fortalecer esses indivíduos em rede e, portanto, este é um novo fenômeno. Acho que a era digital é positiva porque cria um Quinto Estado e um ambiente político mais pluralista para a informação. E, claro, as outras coisas que a imprensa faz é que eles têm suas próprias informações. Eles podem usar texto e vídeos originais, como fazer gravações da polícia prendendo pessoas e todas essas questões que são decorrentes de notícias originadas por indivíduos em rede. Mas também eles podem fazer networking (redes de contato) com outros indivíduos de sua escolha e de uma forma que os capacite também. Assim, tanto por meio de redes de contato quanto de pesquisa e conteúdo originário, indivíduos em rede aumentam a influência do Quinto Estado em relação aos outros.

Revista Intercom – Retomando a proposta de emergência do Quinto Estado na Internet como cidadãos que supervisionam os outros Estados, como ela está sendo realizada ou não em um cenário de redes sociais digitais e também de algoritmos?

Dutton – Bem, eu não diria supervisionar ou gerenciar, eu diria que devemos entender como indivíduos em rede podem responsabilizar outros Estados. Portanto, há algo novo – um novo poder. Penso que o principal papel que o Quinto Estado desempenha é a prestação de contas – social e politicamente. O exemplo mais óbvio são os vídeos de policiais ajoelhados no pescoço de uma pessoa presa por eles. Esse tipo de evidência em vídeo é difícil de negar e tem que ser explicada. Pode não fazer diferença na política, mas cria outra fonte de responsabilização, um papel de fiscalizar e supervisionar a sociedade que também cabe à imprensa. E, de fato, é claro, a imprensa republica e revela o que o Quinto Estado pode fornecer e distribuir. Mas, nesse caso do policial ajoelhado, uma mulher, que por acaso estava passando durante o incidente, filmou, foi para casa e postou em sua conta do Facebook. Rapidamente se tornou um vídeo viral e um evento absolutamente sinérgico para o movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos da América (EUA) e até mesmo globalmente. Então agora, como isso se relaciona com as mídias sociais e algoritmos? Algoritmos são muito centrais para o papel positivo que a pesquisa pode desempenhar. Quando dizem que há desinformação online ou que pessoas desinformadas estão na Internet, eu tenho que lembrar tantas pessoas que este sempre foi o caso. Isso ocorre desde os primeiros dias da Internet, em 1974, quando era chamada de ARPANET, principalmente para enviar e-mails usando o software de rede em computadores em várias instituições. Assim, desde que a web foi desenvolvida e o navegador permitiu que o público em geral a acessasse, as pessoas têm usado a este espaço para obter informações. Contudo, todos os “experientes” nestes primeiros dias da web lembrarão que havia reclamações constantes sobre quanto lixo estava online. Era referido como um gigantesco monte de lixo e o objetivo era realmente muito engraçado. Todos usavam esses desenhos de um grande depósito de lixo onde as pessoas encontram um pouco de informação. Assim, nos primeiros dias da web, as pessoas criaram listas de sites que mantinham boas informações. Então, eu poderia criar um site onde eu postaria informações sobre política e faria a curadoria dessas informações, e então há uma página web de informações relativamente boas para usuários interessados em política. Foi isso que as pessoas fizeram criando páginas da web – desenvolvendo ou listando sites recomendados. Ficamos muito fascinados. Os usuários receberiam essas listas e as pessoas as compartilhavam entre si online, de modo que algumas dessas listas se tornaram a base dos primeiros mecanismos de busca. Em pouco tempo, esses mecanismos em evolução tornaram-se centrais para criar o que poderia ser chamado de sistema “recomendador”. Se tudo, ou quase tudo online, é irrelevante ou lixo ou desinformação, é ridículo apagar tudo. Então, você quer algo para recomendar as melhores informações disponíveis nas áreas que você está interessado. O algoritmo de pesquisa, na maioria dos casos, usará indicadores do valor das informações de cada site ou perfil, se as pessoas se ligam a essa informação, se visualizam, se têm outras páginas de informações de boa qualidade ligadas a esta página ou perfil e assim por diante. Estas podem ser partes de um algoritmo de pesquisa que tenta ajudá-lo a encontrar informações mais relevantes para seus interesses. A maioria das pessoas que usam a Internet entende isso e, o mais importante, muitos mecanismos de busca funcionam surpreendentemente bem. Se você quer pedir uma pizza, quer encomendar um livro, quer encontrar um fato ou quer verificar os fatos, o primeiro lugar que os usuários normalmente vão é na Internet, para pesquisar, porque eles podem fazê-lo rapidamente e funciona. Agora, a coisa é que há sempre um jogo de gato e rato entre pessoas que são usuários maliciosos da Internet e que querem “jogar um jogo” com aqueles que tentam garantir que a Internet funcione do jeito que se pretende. Então, obviamente, há alguma desinformação e, claro, às vezes parece que a web hospeda teorias conspiratórias. Se alguém quiser procurar um grupo QAnon, por exemplo, pode encontrá-lo na web e não há problema com isso. Isso é chamado de liberdade de informação e a melhor maneira de lidar com a desinformação é confrontá-la com boas informações e debates para garantir que as pessoas estejam bem informadas. O aspecto principal dos algoritmos de pesquisa são reivindicados para minar boas informações. Pesquisa de alta qualidade, independente do controle comercial ou governamental, é valiosa para um Quinto Poder. A questão do filtro-bolha é: se me identificarem como um democrata liberal ou um republicano conservador nos EUA, eu posso ser alimentado com mais ligações a informações em consonância com a minha suposta persuasão política. Dessa forma, é discutível que os filtros-bolhas podem realmente levar as pessoas a se tornarem mais polarizadas e mais estreitas em sua opinião. No entanto, essa tese de filtro-bolha está simplesmente errada, eu acredito, em muitos aspectos, já que a maioria das pessoas que falam sobre filtros-bolhas de informação estão olhando para alguma lógica inerente da Internet ou da pesquisa, em vez do que os usuários realmente fazem. Quando você olha para o que os usuários realmente fazem, como em nosso projeto de pesquisa, é uma história diferente. Estudamos como as pessoas buscam informações sobre política em sete países e como usam a Internet para ter acesso a elas. Descobrimos que, em cada um dos países, as pessoas interessadas em política muitas vezes consultavam quatro ou mais fontes de informação, uma das quais eram as informações online. E quando buscaram online, olharam para mais de quatro fontes diferentes. Presumir que todas essas fontes diferentes estão sujeitas à mesma “bolha” é ridículo. Essa noção é enganosa. Um filtro-bolha é um ponto de vista tecnologicamente determinista que não entende o comportamento real dos usuários. Se você está interessado no futebol brasileiro, então olha para tudo o que pode encontrar e isso pode incluir manter contato por meio das mídias sociais, da web, da televisão, do rádio e da conversa com seus amigos. Então, a ideia de que você poderia obter informações falsas sobre quem ganhou o jogo ou como um time jogou é improvável, porque as pessoas reconhecem que há algum “lixo” ou enviesamento na Internet. Mas olhando para várias fontes, sinto que sei o que realmente aconteceu porque vi que foi confirmado por uma série de boas procedências na Internet. Portanto, filtros-bolhas não são uma crítica fundamental da web. Acho que o que descobrimos é que as pessoas que vivem em ambientes políticos polarizados, pessoas de esquerda ou direita realmente presas nesse tipo de processo de polarização, tendem a decidir por si mesmas apenas para olharem para o que concordam. Então, as pessoas são o principal algoritmo de busca. O principal algoritmo para os usuários são eles mesmos. Publicamos recentemente um artigo em que tentamos olhar para o populismo. É o resultado das mídias sociais? Descobrimos que a maioria das pessoas em nações economicamente bem desenvolvidas são “populistas” agora, no sentido de que a maioria sente que tem informações suficientes, que deve ter alguma opinião sobre o que está acontecendo e que suas respectivas opiniões devem ser consideradas e solicitadas. No entanto, não querem, necessariamente, confiar em dar toda a autoridade a políticos e especialistas para tomar decisões. Elas sentem que sabem o suficiente sobre os políticos e percebem que eles são humanos também e que muitas vezes cometem erros. Podemos olhar para Trump e pensar que se você quiser confiar em tudo o que qualquer político necessariamente diz, então, nesse sentido, mais pessoas são populistas. Vimos em todos os sete países que os usuários de Internet são mais propensos a olharem para múltiplas fontes de informação e assim por diante. As pessoas que não olhavam para uma diversidade de fontes eram mais como aquelas pessoas polarizadas, esquerda ou direita, e tendiam a ser mais jovens, não mais velhas. A ideia de populistas serem pessoas mais velhas não é inteiramente precisa. As pessoas que estão polarizadas à esquerda ou à direita são muitas vezes mais jovens e muito mais propensas a limitar suas fontes, como apenas assistir a um podcast favorito e sentir que está em consonância com suas opiniões ou simplesmente não olhar para múltiplas fontes. Então, agora, as mídias sociais, novamente, são a mesma coisa. A noção da câmara de eco é: se você estiver em um espaço totalmente fechado, você tende a ouvir de seus amigos e eles tendem a ter as mesmas opiniões que você, portanto, suas opiniões políticas nunca serão desafiadas, deixando-o feliz em sua câmara, com suas convicções consistentemente reforçadas. Você só ouve pessoas que concordam com você. Claro, isso não é realista em termos de como as pessoas escolhem as mídias sociais. Eu tenho um monte de críticas ao Facebook, mas a maioria dos que usam usam o site provavelmente tem contato com amigos com os quais cresceu junto, ou ido para o Ensino Médio, ou para a faculdade, ou trabalha junto, ou são da família etc. Muitas poucas pessoas têm sua curadoria no Facebook guiada por opiniões políticas. Seria uma pessoa estranha quem fizesse isso. Dito isso, pode haver pessoas entre seus amigos que dizem coisas que você não gosta, você pode ficar com raiva de alguém por causa do que eles pensam. Como eles poderiam apoiar essa pessoa ou esse movimento? E, portanto, vou deixar de ser amigo dele, vou desfazer a amizade. No entanto, muitas pessoas têm um monte de amigos no Facebook, e porque eles derrubaram alguém desse espaço não significa que estão em uma câmara de eco politicamente homogênea. No Facebook, a maioria das pessoas não fala sobre política. Se eu postar uma foto do meu cachorro, recebo um monte de compartilhamentos e muitas visualizações. Mas se eu postar um ponto de vista político, ninguém curte. Ninguém vai compartilhá-lo. Assim, o Facebook não é realmente um meio político como as pessoas podem pensar.

Revista Intercom – Na sua opinião, qual a importância de a sociedade ter uma educação midiática para o funcionamento do Quinto Estado? A partir disso, a regulação da mídia ou algo assim contribuiria ou não para a implementação deste quinto poder?

Dutton – Acredito que o Quinto Estado existe mesmo que ninguém saiba que ele existe e, portanto, ninguém necessariamente pensaria em protegê-lo ou apoiá-lo. Quando eu estava trabalhando para terminar um livro sobre o conceito, baseei-o, em grande parte, nos artigos que escrevi. Uma das razões é porque as pessoas teriam um ponto de vista diferente na Internet se entendessem o Quinto Estado. Acredito que uma coisa muito importante que a educação poderia fazer é instalar uma ideia e compreensão do conceito, revelando a importância da atuação dos usuários na sociedade. Mas isso pode ser muito revolucionário para a maioria das pessoas agora, dada a popularidade da demonização da Internet e as mídias sociais.

Revista Intercom – Você trabalha com tecnologias digitais e comunicação desde o século passado, como nos livros: “Computers and Politics” (DANZIGER; DUTTON; KLING; KRAEMER, 1982); “ Society on the Line” (DUTTON, 1999), “Transforming Enterprise” (DUTTON; KAHIN; O’CALLAGHAN; WYCKOFF, 2005). Quais seriam os principais impactos da Internet na política e nas sociedades, levando em conta também a questão das fake news e seu maciço uso por alguns governos, como Donald Trump nos EUA e Jair Bolsonaro no Brasil? No contexto brasileiro, observamos um aumento no número de agressões a jornalistas. Então, o que você acha sobre esses efeitos ruins e este cenário?

Dutton – Deixe-me abordar parcialmente esta questão de fake news e desinformação e, em seguida, voltar para o que eu penso que são as principais implicações políticas da Internet. O que é realmente importante entender é que nem todo indivíduo em rede é um membro do Quinto Estado. Em termos do Quarto Estado, se você é uma imprensa que é basicamente muito comercial, ou seu governo controla como a imprensa estatal, você não é uma entidade independente. Você não é membro do Quarto Estado. Todo o conceito do Quarto Estado depende de que a imprensa seja relativamente independente das preocupações governamentais ou comerciais. Da mesma forma, em relação ao Quinto Estado, entre os indivíduos em rede, considero como sendo aqueles indivíduos que são realmente usuários e consumidores de conteúdo e não os maliciosos (hackers, crackers, etc.), como a “máfia”. Mas quando a ideia de Estados dos reinos2 foi discutida em dias de Burke, Carlyle e outros, não havia nenhum público além da multidão. Todas as pessoas fora dos portões eram vistas como a “máfia”. Não era uma sociedade democrática naquela época. A ideia foi a de que a imprensa se tornou influente porque atingiu muitas pessoas, e ajudou a responsabilizar os outros Estados (Executivo, Legislativo e Judiciário). Atual e particularmente nos EUA (eu não estou vivendo lá agora, apenas acompanhando a mídia), é incrível o quanto as pessoas pensam o público como multidão, não apenas por causa dos manifestantes, Trump e da multidão que marchou para o Capitólio, mas os intelectuais simplesmente não confiam mais na audiência. Eles acreditam que o público em geral é muito tolo e aceita qualquer informação online. Então, o que definimos como o Quinto Estado são aquelas pessoas que usam a Internet, não maliciosamente, mas que usam ativamente em termos de pesquisa e que também postam ou criam informações online mesmo que não sejam políticas. Se uma pessoa não está entendendo como fazer pesquisas e buscas, como postar e criar suas próprias informações, até fazer vlogs ou blogs de texto, então ela não possui habilidades críticas para um Quinto Estado. Indivíduos comuns em rede, com habilidades, podem potencialmente responsabilizar outros indivíduos e instituições, como filmar um incidente na rua ou entrevistar alguém que conhecem, ou escrever sobre um problema em sua cidade, ou tirar uma foto de água suja em Flint, Michigan, etc. No entanto, se as pessoas estão usando a Internet para fins maliciosos, como cometer fraude ou enviar informações perversamente, eu não as considero membros do Quinto Estado. Há jornalistas maus, políticos corruptos, mas também usuários maliciosos da Internet e há “multidões”. Não acho que seja uma controvérsia. Acho que os manifestantes no Capitólio em 6 de janeiro de 2021 provavelmente foram chamados uniformemente de uma multidão pela imprensa e políticos. Mas penso que eles começaram como manifestantes. Se eles tivessem proteção adequada – segurança – da polícia do Capitólio, teria sido apenas mais um protesto de Trump e não o que eu chamaria de um desastre democrático. E isto aconteceu porque muitas coisas deram errado. Então, acredito que o Quinto Estado é um subgrupo de indivíduos em rede que são diferentes das instituições. Mais uma vez, todas as instituições – imprensa, partidos políticos, até movimentos políticos – usam a Internet para apoiar seus objetivos políticos. Mas digamos que, mesmo em um movimento político, o Quinto Estado é relevante porque os movimentos políticos estão em um momento mais difícil agora, pois indivíduos em rede podem dizer: espere um segundo, não estamos perseguindo os objetivos que os líderes disseram. Assim, em rede eles podem realmente se tornar uma força independente que responsabiliza seu próprio movimento. Portanto, o Quinto Estado não é equivalente a um movimento político, não é equivalente ao populismo ou qualquer outra coisa. Considero que algumas das atitudes e valores do populismo refletem um sentimento de que os políticos devem ouvir o público, e este deve ter um papel na formação da opinião e das políticas públicas. Essas atitudes não são necessariamente relevantes para o Quinto Poder. Busquei usar dados de pesquisa para apontar a proporção do público que são membros do Quinto Estado. Isso chegou a cerca de um terço dos usuários da Internet em termos de como eles se comportam online. Por exemplo, as pessoas que simplesmente consomem conteúdos da Internet não são o Quinto Estado. Se você é apenas um consumidor, você não posta, você não escreve, você está basicamente usando-o como uma mídia de entretenimento ou apenas para assistir streaming de vídeo, este não é o Quinto Estado, e nem são usuários maliciosos. O problema é tentar impedir o uso malicioso da Internet e outras coisas que poderiam minar o Quinto Estado: o importante é que as pessoas reconheçam a diferença, e que encontremos maneiras de lidar com esse uso. Atualmente, estou trabalhando em um projeto de segurança cibernética e, em algum momento, ela será fundamental para o futuro da Internet. Se não pudermos lidar com essas questões de segurança e tornar as pessoas resilientes a elas, o futuro da Internet estará em risco. Agora, indo para a segunda parte da pergunta, qual é o impacto político básico da mídia digital? Desde que comecei a pesquisar essa área, em 1974, após terminar minha dissertação, trabalhando na Organização de Pesquisa de Políticas Públicas da UC Irvine, estudávamos o impacto dos computadores no governo. O financiamento pela Fundação Nacional de Ciência, que foi um dos primeiros projetos, acredito, nos EUA e talvez em todo o mundo, no qual o foco principal do estudo foi a diferença gerada pelos computadores na gestão e na produtividade das operações governamentais. É engraçado agora pensar nisso, como: devemos comprar essas coisas? Devemos pagar todo esse dinheiro por computadores? Será que eles vão estragar as coisas e vão torná-las mais caóticas? Mas como cientista político, a questão principal que eu estava interessado era perceber se havia mudanças de poder relacionadas à introdução da computação no âmbito governamental. Mudanças de poder, quando computadores entram em uma organização como um governo ou universidade, significa que algumas pessoas ganham e outras perdem poder. Isso aumenta o papel e a influência de algumas ou talvez diminua o papel de outras. Por exemplo, no governo, muitas vezes nos primeiros dias do “processamento de dados”, as pessoas estavam preocupadas que os políticos perdessem influência porque não entendiam do que se tratavam essas máquinas e achavam que a “cordialidade” e o conhecimento da cidade seriam prejudicados. Da mesma forma, havia uma expectativa de que a maioria dos planejadores e profissionais especializados seriam mais propensos a ganhar influência porque sabiam como usar dados e tecnologias. A partir de 1974, em nosso estudo sobre cidades americanas, basicamente inventamos o conceito de política de reforço, que com os avanços dos computadores resultou em transformações de poder, mas não eram sistematicamente para um grupo ou outro em organizações. Pensamos: ou as mudanças de poder ajudariam a alta administração, já que eles sabem tudo o que está acontecendo na organização, ou aumentariam os tecnocratas e as pessoas que entenderam que a tecnologia se tornaria mais poderosa do que a organização, ou apoiaria que qualquer departamento ou grupo organizado de pessoas poderia usar computadores e processamento de dados estrategicamente para influenciar a política e aumentar sua influência. Então, desenvolvemos três hipóteses sobre mudanças de poder: uma pluralista, uma tecnocrática e uma mudança de poder de alta gestão que seria resultado dos avanços tecnológicos proporcionados pelos computadores. Descobrimos que não houve mudança consistente. No entanto, quando correlacionamos as mudanças de poder com a estrutura de poder existente na organização de cada município, descobrimos que as mudanças tendiam a reforçar as estruturas de hegemonia existentes. Tomando como exemplo um governante municipal com forte administração central, os gestores seriam os principais beneficiários. Mudanças de poder pluralistas acontecem, e isso basicamente aumentou o poder de todos esses diferentes centros em toda a cidade. Em algumas, houve uma mudança tecnocrática de poder na qual havia um departamento de planejamento muito forte. Então, saímos deste estudo com um conceito que eu chamei de política de reforço, que era o impacto dos computadores e das telecomunicações sobre o governo e as organizações, principalmente para fortalecer as estruturas de poder existentes, não tendo uma mudança sistemática. Quando comecei a estudar cidades de forma mais ampla, e o uso de cabo e comunicações, TV a cabo, cabo interativo e Internet, geralmente essa noção de política de reforço interno ainda parecia o fator dominante. É por isso que, mesmo em 2000, me agarrei a essa ideia, até que comecei a ver dados sugerindo o empoderamento dos indivíduos (o que não é uma política de reforço). Foi a primeira vez que vi uma mudança de poder que realmente se afastou das instituições existentes. Este é um exemplo do por que é difícil entender os desenvolvimentos atuais se você está focado nas estruturas institucionais e paradigmas existentes, para observar o que está acontecendo. O Quinto Estado não faz parte do seu quadro. A nossa pesquisa demonstrou claramente que sua difusão e uso estava capacitando os indivíduos de uma maneira que não poderia ter acontecido antes. [...] Eu acredito que o Quinto Estado é realmente criar um poder diferente, uma espécie de novo centro de poder em um Estado pluralista e democrático. Quero dizer, mesmo em contextos não pluralistas, eu vi o surgimento de um Quinto Estado, como na China. Estudamos muitos eventos na China que, claramente, sem um Quinto Estado que exerce algum poder, teriam sido totalmente suprimidos, porque a imprensa era muito controlada pelo Estado. Fizemos um artigo que foi muito difícil porque meus alunos chineses trabalharam comigo e fizemos estudos de caso de uma variedade de eventos, como uma explosão de gás que abalou a cidade, mas nunca foi noticiado na imprensa, como se simplesmente não tivesse ocorrido. Mas os indivíduos tinham registros em vídeo e foram capazes de repassá-lo para que outros pudessem obtê-lo de forma online, e o fato da explosão tornou-se inegável. No entanto, mesmo na China e mesmo quando há esses incidentes, geralmente é porque está nas regiões e não envolvendo realmente o governo central, porque lidar criticamente com o governo é quase impossível. Assim, o Quinto Estado pode ser suprimido de alguma forma na China. Bem claramente, em Hong Kong, você pode ver a importância de pessoas fora das estruturas institucionais que ainda estão fazendo a diferença. Mas, novamente, isso é sobre o futuro da democracia em Hong Kong e isso é problemático agora.

Revista Intercom – Navegando na página da Universidade de Oxford, há notícias de que você está editando um Manual de Estudos da Internet para a Oxford University Press, correto? Você poderia falar um pouco sobre esse projeto, que seria muito importante também para estudos no Brasil, envolvendo não só o Quinto Estado, mas também as redes sociais, os algoritmos e a Internet como um todo.

Dutton –“The Oxford Handbook of Internet Studies” foi um esforço para introduzir o crescente significado da pesquisa na Internet e na sociedade. Os colaboradores desse volume mostram que os estudos na Internet são muito interessantes. Era muito difícil até mesmo introduzir estudos da Internet em seus primórdios. Quando eu fui para a University of Oxford, em 2002, como diretor fundador do OII, alguns dos meus colegas em Oxford e outras instituições basicamente disseram: “O que você vai fazer em alguns anos quando a Internet desaparecer? Você sabe que vai ser como rádio CB e desaparecer”. Minha opinião já era que a Internet é uma rede e, naquele momento, eu ainda não conseguia observá-la como sendo a rede das redes, algo cada vez mais importante. Acredito que essa dúvida inicial não foi totalmente acertada. Literalmente, existem algumas publicações agora famosas sobre como a Internet vai ser substituída em alguns anos. Então, foi uma luta real para introduzir estudos da Internet. [...] O Oxford Internet Institute ainda está lá e mais forte do que eu imaginava que poderia ser. É muito visível e causa um impacto real nas notícias e pesquisas de várias maneiras. Dito isto, ainda hoje, toda a ideia de estudos na Internet luta tanto porque as pessoas querem defini-la muito estreitamente como uma espécie de primeira invenção do protocolo HTML, TCP, IP – mas isso é muito estreito, porque entra em conflito com suas próprias definições de campo, como estudos de informação. O que deveríamos fazer é garantir que a Internet seja incorporada nas Ciências Sociais e não apenas criar outro departamento tecnicamente definido, como na Engenharia e nas Ciências da Computação. Uma das razões pelas quais deixei os EUA foi para aceitar o trabalho em Oxford e porque não consegui convencer as pessoas de lá a estudar a Internet de uma perspectiva das Ciências Sociais. Quando eu conversava com os diretores da Comunicação da USC (faculdade em que estava no momento), eles diziam: “Vá falar com o reitor de Engenharia. Eles estão fazendo algo lá que pode lhe interessar”; e eu realmente conversei com outra grande universidade nos EUA para me contratarem, de modo que eu pudesse iniciar um centro. No entanto, recebi a oferta de Oxford e aceitei ao saber que eles tinham montado um novo departamento – o OII – que poderia fazer exatamente o que eu queria fazer, que era estudar a interface Internet e sociedade. Mas ainda é difícil construir estudos na Internet porque há uma força gravitacional dos departamentos e escolas existentes, de que eles são menos importantes, pois outros querem dobrá-lo em departamentos existentes. O importante é apenas mídia, comunicação ou política. Anos atrás, ninguém queria um departamento focado em estudos na Internet. Agora, todas as disciplinas querem ter. Então, é um problema diferente, mas é um problema que eu gosto, porque significa que há mais pessoas estudando a Internet agora do que nunca e há toda essa rede de centros de pesquisa por aí. É provavelmente o campo mais crescente, tanto na academia, como em publicações, de qualquer campo nas Ciências Sociais. Porém, mesmo nas Ciências Médicas e outras, o papel dos estudos na Internet é tremendo. Isso é muito promissor. O Quinto Estado tem muito trabalho a fazer no Brasil, como faz nos EUA e no Reino Unido.

Revista Intercom – Por fim, no Brasil vivemos uma batalha entre jornalistas e cidadãos, em que observamos uma crescente no número de agressões físicas e virtuais, por redes sociais. Como lidar com esses inimigos do Quinto Estado?

Dutton – Essa é uma batalha mundial. Um dos meus capítulos no livro que será lançado será sobre como lidar com inimigos do Quinto Estado, e um deles é a imprensa. Claro, todos os outros Estados são inimigos do Quinto Estado, mas a imprensa se sente entre as mais ameaçadas pela Internet e pelas mídias sociais. Por um lado, eles se sentem ameaçados porque a Internet está minando o modelo de negócios tradicional da imprensa. Por outro lado, Peter Keen e outros pensam que blogueiros são amadores e não devem ser pagos ou receberem atenção – cliques e engajamento – porque jornalistas profissionais de verdade devem ser os únicos que as pessoas devem ler. Não há nada sobre blogs que signifique que estes substituiriam o jornalismo. São um complemento. Blogueiros e o Quinto Estado são elogiosos à imprensa, e considero que esse tipo de ciúme ou raiva sobre os blogueiros é apenas desviado. Cada vez mais os jornalistas estão usando o conteúdo criado pelo Quinto Estado. Indivíduos em rede são as pessoas que realmente veem o que está acontecendo e podem mostrar e descrever exatamente o que aconteceu em um evento. Então, acredito que todos os outros Estados estão preocupados com o Quinto Estado, pois quanto mais poderoso ele se torna, mais estridentes os indivíduos em rede que se mobilizam através desse Estado são.

Referências

DANZIGER, J. N.; DUTTON, W. H.; KLING, R.; KRAEMER, K. L. Computers and Politics: high technology in american local governments, New York: Columbia University Press, 1982.

DUTTON, W. H. A Research Agenda for Digital Politics. Edward Elgar Publishing, Cheltenham, United Kingdom, 2020.

DUTTON, W. H. Bill Dutton. Disponível em: https://billdutton.me/. Acesso em: 7 fev. 2021.

DUTTON, W. H. The Oxford Handbook of Internet Studies. Oxford Handbooks Online, Scholarly Research Reviews, 2013.

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Notas

1 Entrevista realizada on-line (Google Meet), no dia 15 de janeiro de 2021, com o professor doutor William H. Dutton, com a orientação de Iluska Coutinho, coordenadora do Núcleo de Jornalismo e Audiovisual (NJA-UFJF), e financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
2 Historiadores da época que escreviam sobre a Revolução Francesa e sobre a ideia de Estados de forma poética.

Autor notes

Sobre o entrevistador Gustavo Teixeira de Faria Pereira

Doutorando em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Jornalista e Membro do Núcleo de Jornalismo e Audiovisual (NJA) e da Rede Telejor. Como principais produções estão o artigo “Democracia e qualidade no jornalismo audiovisual: diálogos TV-Internet e o quinto poder” e o livro “Vídeo Sapiens: Jornalismo, Audiovisual e Direitos Humanos”.

Editora responsável: Maria Ataide Malcher

Assistente editorial: Weverton Raiol

E-mail: gustavo_tfp@yahoo.com.br

Declaração de interesses

Conflito de interesse O entrevistador declara que não há conflito de interesse.


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