A VIGÉSIMA SEXTA

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Resumo

A segunda edição de 2023 da Revista Brasileira de Iniciação Científica em Comunicação Social (Iniciacom) está no ar. Agora trimestral, o periódico tem atendido ininterruptamente às necessidades científicas daquele público que começa a apurar seu olhar para a observar o fenômeno comunicacional com o desejo de apresentar soluções e mudanças, sobretudo para e partir da realidade em que vivem. Se esse não fosse o desejo de todo iniciante, talvez fazer pesquisa não tivesse sentido.

Além de uma simples necessidade, fazer pesquisa é o resultado da importância de pensar na coletividade e almejar um futuro mais próspero em um mundo mais inclusivo e solidário a todas e todos, independente da condição social. A pesquisa tem sido instrumento basilar no processo de construção e propagação do conhecimento, e seus resultados podem mensurar o quanto a sociedade tem sido cada vez mais dinâmica e como a ciência tem avançado e modificado essa realidade positivamente.

Assim como a nova geração tem chegado às universidade e, posteriormente, ao mundo do trabalho, as pesquisas iniciantes brotam do fruto de uma jornada universitária que, muitas vezes, tem sido vista como ineficiente, frente a uma dinâmica social mediada pelo mercado que tem alinhado a educação à noção de mercadoria. Não fosse uma universidade essencialmente comprometida com a cidadania, talvez muitos dos avanços sociais conquistados nem fossem possíveis.

Ainda não dá para mensurar a tamanho da inquietude de cada estudante que tem publicado na Iniciacom, já que muitas dessas publicações representam apenas o início de suas trajetórias – muitas delas certamente vão se defrontar, mais tarde, com o mestrado e/ou doutorado, as salas de aulas, os centros de pesquisa científica ou o campo do fazer Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas ou qualquer outra área que faça ponte com à Comunicação. O que você, leitor ou leitora, encontrará aqui, com certeza, é a compreensão de que essas inquietações existem e são a esperança do futuro das Ciências da Comunicação.

O primeiro artigo da edição exemplifica bem a relação entre universidade e sociedade. “As Repúblicas Estudantis de Ouro Preto e Mariana: influências da comunidade na existência de uma bolha social” é uma pesquisa desenvolvida por Raiane Rezende e sua orientadora, a professora Adriana Bravin, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). O trabalho analisa como as repúblicas estudantis de Ouro Preto e Mariana influenciam e mantém uma bolha social. Para isso, foram utilizadas técnicas inspiradas na etnografia, netnografia, observação participante e não-participante. O trabalho conclui que a bolha social contribui para o déficit de informações e experiências externas e a comunidade termina por não compartilhar substancialmente da cultura das cidades que a recebem.

Em continuidade às discussões que envolvem interações entre os indivíduos no convívio em sociedade e sua relação com o meio em que vivem, o estudo “Os Agentes que Influenciam no Gosto Musical: hábitos de consumo de música”, de Bruna Bonin, Isabela Morais, Letícia Pille e, Pedro Neves, quatro estudantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), tem por objetivo analisar a relação de influência dos meios de comunicação no gosto musical. Constatou-se, portanto, uma correlação entre meios de influência na música e gêneros apreciados, e que a internet tem mais influência entre os jovens.

Para o âmbito mais regionalizado, Mikaelly Nagyla da Silva Santos e sua orientadora, a professora Mayara Sousa Ferreira, da Universidade Estadual do Piauí (Uespi), investigam os indícios de fotojornalismo na iconografia de Cristino Varão no processo de preservação de vestígios memorialísticos e históricos da cidade de Picos, no Piauí, a partir do método de Peter Burke (2004) sobre testemunho ocular. O trabalho “Fotografia e testemunho ocular: abordagens e composição de Cristino Varão sobre a Picos-PI do século XX” traz como conclusão, a partir de uma análise de conteúdo, que o material de Varão possui técnicas avançadas da fotografia, tanto em relação a sua composição quanto à sua abordagem, em um período de pouca difusão tecnológica fotográfica.

Os quatro próximos artigos tratam da representação feminina em diferentes tipos de espaços, seja em tabloides, mídias sociais digitais ou marcas publicitárias. “Ataques misóginos na internet pela perspectiva da performance de um personagem feminino: Haruno Sakura, do Universo de Naruto”, de Antonio Guilherme de Lima Santos e sua orientadora, a professora Luci Maria Teston, Universidade Federal do Acre (UFAC), identificam como a personagem Haruno Sakura é retratada pelos fãs do anime Naruto e a associação dos discursos à teoria da Espiral do Silêncio. O trabalho parte de uma análise das discussões em fóruns e grupos virtuais, a qual demonstra uma predominância de discursos de ódio nestes espaços.

“Diana, Princesa de Gales: uma análise das manchetes do Daily Mirror sobre Lady Di”, de autoria da estudante Mayara da Silva Nunes, da Uninassau, apresenta o fenômeno da tabloidização e a construção midiática em torno da Princesa Diana. O artigo tem por objetivo analisar a personificação da Diana no tabloide britânico Daily Mirror a partir das nuances acerca dessa relação midiática. Nas maioria das manchetes analisadas, constatou-se que a figura de Lady Di foi relacionada à uma imagem machista e sexista.

Nem todo conteúdo que envolve o público feminino tem cunho pejorativo. O trabalho da estudante Vitória K. R. Pereira e sua orientadora, a professora Claudia B. Souto, da Universidade Franciscana (UFN), intitulado “Não é Nada “Obvious”: Femvertising e produção de conteúdo pró-feminismo da Obvious CC. no Instagram”, investigou como a empresa de Publicidade e Propaganda Obvious CC. incorpora representações de feminilidade e empoderamento feminino em seus conteúdos no Instagram. Constatou-se três principais conectores da estratégia femvertising adotada pela empresa: promoção do autoconhecimento, estímulo ao autocuidado e fomento do protagonismo feminino.

Por fim, uma outra perspectiva, agora de recepção, baseada em etnografia na web, investiga os diferentes tipos de afetos nas comunidades de fãs nos canais Omeleteve e Entre Migas no Youtube. O trabalho “Entre Migas - Engajamento, Interação e Participação em Comunidades Virtuais”, desenvolvido pelos estudantes Jorge Felipe Henríquez Chamorro e Lúcia Iara Bandeira, sob orientação do professor Silvio Simão de Matos, da Universidade da Região de Joinville (Univille), busca compreender as razões pelas quais o canal Omeleteve tem sofrido relações misóginas em comparação à receptividade e à participação do fandom do Entre Migas. O trabalho abre a discussão sobre a importância da regulamentação das mídias sociais digitais como possibilidade de inibir o ódio e o preconceito que interferem na liberdade e no direito de outras pessoas.

Por uma outra perspectiva, agora sobre a influência das mídias sociais digitais na construção da masculinidade heteronormativa, Lucas Wesley Kelly dos Anjos e sua orientadora, a professora Danielle Brasiliense, da Universidade Federal Fluminense (UFF), analisam sete perfis de homens que propagam a cultura fitness no Instagram. O trabalho “Corpo, narcisismo e performance do gênero masculino no Instagram” demonstra que os perfis analisados mantêm discursos que sustentam um padrão ideal da masculinidade heteronormativa socialmente aceito.

No âmbito jornalístico local, mais uma pesquisa desenvolvida na Universidade Estadual do Piauí (Uespi). Vinícius da Silva Coutinho e a professora Ruthy Manuella de Brito Costa discutem a construção de narrativas sobre a pauta ambiental em um portal da cidade de Picos, na região centro-sul do Piauí. O trabalho “Jornalismo Ambiental ou sobre Meio Ambiente? Narrativas do portal Cidades na Net no primeiro semestre de 2022” demonstra, a partir da análise das notícias no período delimitado, que o tema ambiental tem sido priorizado em datas comemorativas e apenas ações pontuais de órgãos públicos são veiculadas no portal.

Por último, na seção de entrevista, os estudantes André Firmino Faustino Dias de Almeida, Luiz Manoel Pereira Filho e José Ricardo Felix da Silva Júnior, juntamente com a professora Sandra Raquew dos Santos Azevêdo, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), entrevistaram o professor e pesquisador Carlos Alberto Farias de Azevêdo Filho, que tem uma longa trajetória acadêmica nos campos do Jornalismo e da Literatura. A entrevista “Como uma flor, o Jornalismo Literário se abre a novas possibilidades” trata sobre o jornalismo literário, experiências pessoais do entrevistado e a realidade do mercado de trabalho.

Talvez essa edição seja entendida como mais uma para quem visualiza de longe a Iniciacom como mais um periódico científico, mas para cada um e cada uma das estudantes, autores e autoras, que investigou, bebeu das nossas fontes de pesquisa, traçou os procedimentos, escreveu, a analisou os fenômenos estudados, essa edição será especialmente aquela que registra seus nomes como efetivos pesquisadores e pesquisadoras da Comunicação. E mais, quem sabe se essa edição não seja, para cada um deles, uma primeira publicação efetiva em um periódico científico.

É com esse entendimento que a pesquisa ganha ainda mais validade nesta publicação. É na diversidade de olhares dos jovens pesquisadores e pesquisadoras que encontram na comunicação possibilidades de ver e interpretar os fenômenos sociais que a Iniciacom faz sentido e é cada vez mais estimulada a continuar na caminhada.

Uma boa e proveitosa leitura!

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Publicado

2023-09-05

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Seção

Apresentação