A VIGÉSIMA SÉTIMA

Autores

  • Sílvio Simon

Resumo

A edição da revista que, nesse momento, começa a circular marca mais uma cena de retomada das perspectivas que envolvem a pesquisa e a ciência no Brasil. Nesse caminhar, este ano o congresso da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) também se reinventou, permitindo e vivenciando a experiência de uma etapa remota e outra presencial. Com esse novo formato, o evento chegou a quase 3.100 inscrições, com 1.282 trabalhos apresentados remotamente e 1.325 entre 5 e 7 de setembro, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). 

Após anos em que vivemos momentos tensos, com retrocesso nos investimentos, o ano de 2023 foi marcado justamente pela esperança de um tempo diferente, um tempo de valorização, de acreditação e de uma em que as discussões que envolvem diferentes campos científicos se fazem presente. Nessa linha de discussão, a Intercom se posiciona enquanto sociedade científica e traz como tema para seu congresso nacional “Comunicação e políticas científicas: desmonte e reconstrução”. Enquanto ciência que ocupa o espaço da difusão, a comunicação pode exercer um papel fundamental nesse processo de reconstrução e retomada, de fazer com que a ciência, a inovação e as tecnologias geradas em nosso país se aproximem da sociedade, em um debate aberto, contínuo e presente. Os desafios são grandes, mas com uma troca plena e democrática podemos ter decisões políticas e bases sólidas para fazer a ciência chegar a cada um dos brasileiros e brasileiras, permitindo um desenvolvimento social justo e pleno. 

Na primeira parte desta edição, você visualiza os textos que compõem o dossiê temático. Além desses artigos, temos um conjunto de artigos relacionados às Ciências da Comunicação. Um ponto importante dessa edição é a entrevista “Ciência, jornalismo e sociedade: caminhos para serem retomados”, realizado por Wilson Carlos da Silva, acadêmico de Jornalismo da PUC-Minas, com a orientação da professora Viviane Maia Vilas Boas, coordenadora do curso de Jornalismo da mesma instituição. Wilson e Viviane conversaram com o professor Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), conferencista principal do 46º Ciclo de Estudos Interdisciplinares em Comunicação.

Abrimos o dossiê com dois textos que trazem reflexões relacionadas às narrativas midiáticas. No primeiro, Farley Santana Pereira (ESPM-SP) faz uma análise de como a mídia atua nas questões relacionadas à migração qualificada de cientistas brasileiros. A pesquisa analisou 20 textos publicados entre 2019 e 2022 e relata uma fragilidade no campo científico nacional. Em outra perspectiva, Renata de Oliveira Miranda Gomes, Nicolly Prado Luz e Audrey Luiz Oliviera (UnB) contextualizam os resultados do podcast “Papo UnBês”, que vem contribuindo no período de seus três anos desde que foi criado para qualificar a comunicação pública da universidade, fomentando, inclusive, a geração de outras iniciativas relacionadas a esse formato de comunicação.

Com o constante aumento da disseminação de informações falsas nos últimos anos, as agências de checagem passaram a fazer parte do cotidiano da sociedade. Dando sequência a uma pesquisa de iniciação científica, Gabriel Bhering e sua orientadora Iluska Coutinho (UFJF) trazem para a Iniciacom um estudo que apresenta um entendimento de como agências como Aos Fatos, do Uol, atuaram para combater a desinformação mesmo após o fim da pandemia. Com a elaboração da pesquisa e contextualização aqui dos resultados, se tem uma leitura que permite pensar em possíveis soluções relacionadas à educação midiática.

Passar por momentos de aprendizagem foi uma constante que se amplificou nos últimos anos. E com as marcas e suas ações publicitárias também não foi diferente. Giovane Carlos da Silva e Suelen Brandes Marques Valente (UnB) fazem uma análise das publicidades feitas por marcas durante o período da Covid-19 e mostram que muitas marcas agiram rapidamente para fazer da comunicação junto aos consumidores uma maneira de mostrar sua responsabilidade junto a sociedade onde atua.

O cenário dos dois próximos textos o Twitter. Isabela Novelli Maciel (Casper Líbero) nos apresenta um artigo que tem como pano de fundo o debate público gerado a partir da CPI da Covid-19, especificamente nos perfis @desmentindobozo e @camarotedacpi. Realizando uma análise de conteúdo, Isabela mostra como os perfis citados contribuíram e geraram debates e interações na esfera pública virtual. O outro artigo que tem como objeto esta mesma rede social na internet analisou as repercussões midiáticas das aparições públicas do ex-presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia, especificamente na Praia Grande (São Paulo), em janeiro de 2021. A conclusão de Tiago de Oliveira Martins e Tarcisio Torres Silva (PUC-Campinas), autores do texto, é de que ações planejadas e com um todo aparente de amadorismo ajudaram a obter a difusão buscada pelo mesmo com a iniciativa realizada.

A parte do dossiê temática finaliza com o artigo de Lorena de Oliveira Santos e Ana Paula Goulart de Andrade (FACHA) e com a entrevista realizada com o professor Renato Janine Ribeiro (presidente da SBPC). Lorena e Ana Paula procuram entender a constituição do “ecossistema de comunicação bolsonarista no Brasil”. O percurso metodológico escolhido parte da Análise de Materialidade Audiovisual, cuja proposta é investigar pautas do programa “Pingos nos Is”, da Jovem Pan. O resultado efetiva a constatação de que o programa auxilia na manutenção de um processo contínuo de desinformação e construção de uma sociedade antidemocrática.

Na seção de artigos de temática geral, o trabalho “Doentes virtuais, consumidores reais: um estudo de caso da revista Bem-Estar”, de Alice Portela da Costa, Gabriel Cabral Gomes, Janine Justen e Márcio Tavares d’Amaral (UFRJ), traz uma análise a partir da revista Bem-Estar, com circulação nas cidades de Itajaí, Balneário Camboriú e Itapema, percorrendo as relações entre cuidado da saúde e estímulo ao consumo. 

Em seguida, em análise ao documentário O dilema das redes (2020), Vinicius Corrêa Araújo e Gustavo Souza Santos (UNIFIPMoc) estudam em “Hiperconexão em xeque: o paradoxo do laço digital a partir do documentário O dilema das redes (2020)” o paradoxo da hiperconexão e concluem que “[...] o paradoxo do laço digital moldou e vem moldando as relações sociais como um todo [...]”, e são impactados por mecanismos e algoritmos. 

Para fechar a edição, dois textos que abordam a questão da ética na Comunicação. “Ética e sensacionalismo: o Caso Evandro e o papel do jornalismo vinculado aos Direitos Humanos”, de Larissa Ribeiro Raymundo (UFRJ); e “Intencionalidades editoriais e conduta ética no jornalismo: Uma análise da cobertura da morte de Lázaro Barbosa de Souza pelos telejornais Jornal Nacional e Alerta Nacional”, de Ludmila Galdino Batista e Franco Dani Araújo e Pinto (Univale). Larissa traz para a cena do texto em seu artigo a cobertura do caso Evandro (1992), fazendo uma análise da materialidade do audiovisual aliada à revisão bibliográfica, com uma comparação com a investigação sobre o caso realizada pelo jornalista Ivan Mizanzuk. Já Ludmila e Franco traçam olhares investigativos para a cobertura da morte de Lázaro Barbosa de Souza (junho de 2021), no Jornal Nacional e no Alerta Nacional, encontrando perspectiva de linguagem e uso de termos sensacionalistas em ambas as coberturas.

Sempre é uma alegria imensa para nós do corpo editorial da revista Iniciacom observar a qualidade do produto que entregamos para o campo da Comunicação. É incrível a dedicação dos nossos (as) estudantes e orientadores (as) na produção científica de nossa área. Especificamente esta edição, publicada no mesmo período do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação da Intercom, tornou-se um marco na representatividade dessa luta, dessa constante busca pelo saber científico, por acreditar no potencial, no engajamento e em uma pesquisa que se revigora, tendo como sustentação acadêmicos (as) e professores (as) dos cursos de graduação em comunicação de todo o Brasil.

Ao concluir, deixamos um imenso agradecimento e reconhecimento, seja a você que enviou seu texto, a quem participou na avaliação e a quem atua no processo de fazer da ciência um caminho para uma sociedade mais igualitária e plural, capaz de compreender o valor da comunicação para uma sociedade cada vez mais democrática.

 A vocês, uma ótima leitura.  

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Publicado

2023-09-06

Edição

Seção

Apresentação