A TRIGÉSIMA TERCEIRA

Autores

  • Jhonnatan Oliveira
  • Izani Mustafá

Resumo

E com satisfação que anunciamos nossa chegada à trigésima terceira edição da Iniciacom, uma publicação da Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação e que tem como principal público os estudantes de cursos da área de Comunicação Social, bem como os pesquisadores da área recém-formados. Apontar a quem estamos dedicados em receber e fomentar os debates logo de saída é importante porque não é possível pensar em ciência ou área do conhecimento sem, antes, construir uma base de autores que abraçam o pensamento crítico e o sentido da construção contínua para as dinâmicas comunicacionais. E aí que a Iniciacom está demarcada. Os autores que compõem nossas edições são especialmente graduandos, que produziram suas pesquisas enquanto estavam aprendendo sobre o funcionamento da engrenagem de uma investigação científica.

A riqueza e a diversidade dos trabalhos apresentados aqui nesta publicação aumentam a nossa responsabilidade porque estamos envolvendo quem está aprendendo, contudo, que já se enxerga como pesquisador(a). Em nosso fluxo de trabalho o recebimento de materiais é contínuo. Sim, acontece durante o ano inteiro. E as publicações são divulgadas trimestralmente.

Como a primeira do ano de 2025, esta edição de março marca também o início do sétimo ano ininterrupto de publicações após o retorno de nossas atividades. São imbricações entre temas emergentes, mas que conversam com autores clássicos do campo da Comunicação. Uma interlocução que, inclusive, fortalece os diálogos entre a comunidade acadêmica e a sociedade. No total são oito trabalhos, com dezoito autores(as) de diversas instituições de ensino e regiões do Brasil.

Os artigos tratam sequencialmente sobre: Jornalismo, Reflexões Cinematográficas, Gênero, representatividade negra e publicidade, além de esfera pública no ambiente digital e resistências nos conflitos ambientais. Ou seja, de uma forma ou de outra, são temas que passam pela pauta contemporânea na Comunicação.

O primeiro trabalho tem como título "Apontamentos sobre o legado intelectual de José Saramago, a partir de seis entrevistas jornalísticas", com autoria de Louise Soraya Chacon Silva e Maria do Socorro Furtado Veloso, as quais partem de um projeto de pesquisa anterior. Neste artigo, de modo mais recortado e a partir de seis entrevistas, elas discutem o que se entende pelo "pensamento social" de José Saramago, escritor que utilizou das suas entrevistas jornalísticas como um espaço de socialização de seus ideais. Para tanto, as autoras se basearam em pesquisa bibliográfica e análise de conteúdo de natureza qualitativa. Um dos pilares para o resultado ser alcançado é a visão sobre essas entrevistas como fortes fontes de pesquisa. Esforço que não deixa de ser a união entre jornalismo e memória.


O segundo trabalho disposto nesta edição também é de autoria de duas pesquisadoras, Heloisa Gamero Marques e Angela Maria Zamin, e é intitulado "Jornalismo internacional sob uma perspectiva decolonial: reflexões a partir do acontecimento Mahsa Amini na FSP". Por meio de conceitos como orientalismo, jornalismo internacional, direitos humanos e decolonialidade, a investigação tem como objetivo a busca pela compreensão dos sentidos acionados elou produzidos na construção do caso Amini pelo jornalismo brasileiro. Portanto, elas partiram de análises empíricas sobre a cobertura jornalística do primeiro mês sobre o assassinato da jovem Mahsa Amini no Irã e feita pelo jornal Folha de São Paulo. A partir da análise de conteúdo de 18 textos jornalísticos informativos - se observou um jornalismo de repasse, o qual transmitiu estereótipos sobre o Irã e imprimindo-o como um território sinônimo de "não civilizado". Ainda, foi apagado o histórico de luta por direitos e as trajetórias de vida de mulheres islâmicas iranianas.

Abrindo o segundo eixo de nosso dossiê, apresentamos o trabalho "Reflexões cinematográficas sobre o impeachment de Dilma Rousseff e a representação feminina". A autoria é da Maria Eduarda Dierka Prado e Carolina Fernandes da Silva Mandaji. As autoras investigam as representações de gênero nos documentários "Democracia em Vertigem" e "Alvorada", ambos tratam sobre a destituição da ex-presidente de Dilma Rousseff, em 2016. Os documentários, dirigidos por Petra Costa, Anna Muylaert e Lô Politi, foram o material audiovisual recortado para o estudo. Desse modo, as autoras abordam as convenções do documentário contemporâneo e tentam compreender os modos como as cineastas narram os eventos políticos decorrentes do Impeachment. Para além de apresentar o olhar do documentário como algo que não é uma simples documentação, mas sim uma forma de moldar narrativas políticas, o trabalho oferece uma visão sobre as complexidades e desafios sobre ser mulher no cenário político brasileiro.

Em uma esfera de debate semelhante sobre gênero e o feminino, Victoria Saldanha Silva e

Thamyres Souza apresentam o artigo "O "ser mulher" em programas telejornalísticos da Rede Clube". O pano de fundo de construção de representações sociais aqui é ativado sob a lente do telejornalismo. De forma mais específica, os veiculados no dia oito de março de 2023. Esse recorte foi estudado por meio de pesquisa bibliográfica e documental, além da análise de conteúdo. Portanto, o artigo analisou as representações sociais em torno do que é pulverizado na mídia sobre o como a mulher é apresentada. Segundo as autoras, os resultados apontam para um ser que é violentado, sensível, mas também alguém forte e ativista.


Na sequência e ainda na esfera de comunicação e representação, o artigo "A representação do negro no espaço público na publicidade capixaba" promove uma análise sobre a negritude por meio da publicidade, isso, tomando como base campanhas premiadas no Festival Colibri 2023. Com autoria de Vinicus Araujo de Freitas e Lívia Silva de Souza, é utilizada a semiótica greimasiana para examinar em níveis discursivo, narrativo e fundamental. Dessa maneira, o estudo se debruça sobre o questionamento: "de que forma o negro é representado em seus rituais de consumo no espaço público capixaba por meio da publicidade?" Sabendo que a publicidade também possui o papel de construir significados e identidades cultuais, os pesquisadores partem do contexto capixaba para elucidar como se dão as relações entre o espaço público, representações em campanhas publicitárias e suas dinâmicas socioeconômicas específicas.

O trabalho "Covid-19 no Brasil: um estudo sobre a polarização política e a empatia em tempos de crise", cuja autoria é da Ana Kelli Fonseca, busca explorar o modo como a pandemia de Covid-19 alterou o que ela chama de "fragilidades sociais e institucionais" no Brasil. Em especial, o texto destaca a polarização política e sua relação com o exercício da empatia e simpatia. A autora escolheu dividir seu trabalho em três momentos. São eles, "(l) as guerras culturais e a polarização política; (2) a pandemia no Brasil, as estratégias do governo Bolsonaro e a empatia identificativa; e, por fim, (3) os distanciamentos invisíveis e a desumanização".

Ressalta-se, aqui, que logo em suas considerações iniciais a autora utiliza a obra "Ensaios sobre a Cegueira" do escritor José Saramago foco de outra pesquisa que abre esta edição da revista  para elucidar pontos de sua argumentação misturando a obra ficcional e os elementos observáveis da realidade de fragilidade social agravados pela pandemia de Covid-19.


O penúltimo trabalho, "Explorações Teóricas e Empíricas das Noções de Públicos, Esfera Pública e Contrapúblicos no Contexto Digital", foi elaborado pelas autoras Larissa Alboreda Gandolla e Dayana Melo. O artigo visa explorar as dinâmicas sociais a partir das noções de públicos, esfera pública e, especialmente, contrapúblicos no contexto atual. O recorte empírico de pesquisa diz respeito à esfera de tecnologias digitais, ou seja, as plataformas digitais de entretenimento. A pesquisa partiu da união do método bibliográfico - com caráter exploratório e qualitativo e dos direcionamentos da etnografia digital. Os passos metodológicos da pesquisa permitiram o mapeamento de três grupos caracterizados como contrapúblicos. A internet, em especial no contexto das plataformas digitais, revelou-se um espaço de novas dinâmicas, relações e arranjos sociais.

O artigo que encerra nossa trigésima terceira edição é de um conjunto de autores tem como título "Vulnerabilidades e resistências dos públicos em conflitos socioambientais: um caso de implantação de empreendimento hidrelétrico". Foi escrito por Fernanda Nascimento Ribeiro, Ana Clara Nunes Cardoso, Giovanna Ramalho Ribeiro, Marcio Simeone Henriques e Daniel Reis Silva. O objetivo principal do trabalho é compreender as dinâmicas comunicacionais em processos de conflito socioambiental. De forma mais específica, o estudo se debruça sobre o caso da implementação da Usina Hidrelétrica (UHE) Aimorés, em Minas Gerais. A pesquisa tem como marcos temporais o período entre os anos de 2021-2024 e metodologicamente utiliza estudo de caso para se aprofundar nas identificações de públicos, atores sociais e os acontecimentos relevantes que conformam as dinâmicas comunicacionais, como vigilâncias e denuncias por atores da sociedade civil. Em resumo, nota-se o poder - de ordem comunicacional - que decorre de acontecimentos socioambientais afeta a forma dos atores se mobilizar e resistir para superar as vulnerabilidades envolvidas.


Por fim, agradecemos a todos os nossos autore(as) e comunidade acadêmica que aprecia esta e demais edições da Iniciacom. Um dos nossos pilares no periódico é o de fomentar a Pesquisa em Comunicação desde a Graduação e estar atento ao que está se discutindo. Nesse sentido, é com felicidade que observamos não somente debates emergentes no campo sobre gênero e disputas de poder sobre a mulher, mas, também, a grande maioria de autoras como contribuintes desta edição. Ressaltamos que juntas formam um grupo de quinze autoras, em contraste com três autores. Claro, não estamos tratando de números aqui, mas nos chama a atenção o quantitativo expressivo de mulheres pesquisadoras que se dedicam a investigar diversas dinâmicas no campo da Comunicação no Brasil, inclusive, sobre as trajetórias de vida de outras mulheres.

Por último, mas não menos importante, estendemos a gratidão à nossa equipe editorial da revista e ao nosso time de avaliadores voluntários, os quais atuam de várias partes do Brasil e do mundo. Desejamos uma excelente leitura e continuidade no processo de construção de conhecimento para todos

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Publicado

2025-08-23

Edição

Seção

Apresentação