O inquietante e o obsceno no escândalo midiático da orgia de João Doria
Resumo
O presente artigo parte de um escândalo midiático que tomou forma no decorrer das campanhas eleitorais do ano de 2018 envolvendo o então candidato a governador paulista, João Doria (PSDB). A análise do curto vídeo que serviu de evidência para as acusações de infidelidade matrimonial do ex-governador auxilia na compreensão de características que têm se tornado comuns instrumentos na captura de eleitores-espectadores-usuários das redes sociais digitais. Através dos afetos suscitados pelos campos estéticos do obsceno e do inquietante, a suposta orgia de João Doria se tornou um eficiente meio de desestabilização da imagem pública de seu personagem principal, oscilando entre o meme, o flagra moralista do eleitor conservador, o libelo anticorrupção e outros tantos posicionamentos. Através de uma análise do vídeo em si, de sua circulação pelo X (antigo Twitter) e o cotejo com as matrizes estéticas-teóricas do obsceno e do inquietante, o artigo desenvolve um tratamento das imagens como sintoma das transformações que a sociedade brasileira tem passado em sua relação com a política, seus discursos e suas imagens.